Jogos pós-eleitorais animam Outono na Geórgia

A vida política anda quente pela Geórgia pós-eleições parlamentares. Primeiro o Presidente da Geórgia assumiu a derrota nas eleições Parlamentares de 1 de Outubro, ficando contudo com os louros de ter sido a sua governação a permitir a democraticidade do processo. Ou seja, foi uma derrota (nos resultados) vitoriosa (nos meios e contextos).

Logo em seguida (16 de Outubro), Saakashvili decidiu restaurar a cidadania Georgiana a Ivanishvili, fundamentando com actos as suas locuções sobre o valor inestimável da Democracia e da Democratização progressiva da Geórgia. O derrotado Presidente da Geórgia passava a somar 2 - 1, no jogo contra o novíssimo Primeiro-Ministro da Geórgia.

A 19 de Outubro um novo dado em cima da mesa! Leonid Tibilov, Presidente da República (de facto) da Ossétia do Sul, assumiu que voltaria a negociar com Tbilisi se a independência da República que preside for reconhecida. Isto um dia depois de a União Europeia ter afirmado que o reconhecimento da Abkhazia e da Ossétia do Sul estão fora de questão... Nada de novo neste capítulo, quando a Europa tenta compreender o que fará a uma (eventual) Catalunha e Escócia independentizadas!!

E como se tudo isto não fosse já confuso o suficiente, agora Ivanishvili assume, pela primeira vez, que Saakashvili teve culpa no despoletar da Guerra de Agosto de 2008. A prossecução de uma política nacionalista exclusivista, que fazia lembrar os anos da "Georginização" de Gamsakhurdia, foram as causas maiores do conflito que levou a que as duas repúblicas reafirmassem os projectos independentistas, manifestados no começo da última década do século XX.

Desde 2009 que tenho dito que tanto Moscovo como Tbilisi têm culpas no conflito em causa, mas a Geórgia soma mais culpas (55%-45% se quiserem) pela invasão de território constitucionalmente autónomo, sem respeito pelos direitos sociais e políticos de minorias étnicas, que se tornam em maiorias nas regiões em causa. Desde 2009 que digo que a Geórgia, que o eixo Americano-Europeu decidiu proteger, tem culpas na Guerra de Agosto de 2008.

Parece que afinal o Fidalgo andava menos errado do que pensava; nestas coisas estar certo é quase impossível. Em diplomacia estamos menos errados; estamos mais próximos da verdade; mas nunca estamos certos! A capacidade de Ivanishvili assumir a culpabilidade maior da Geórgia deveria valer-lhe o 3-2, no jogo de influências contra o Presidente Saakahsvili. Na verdade assumir a culpabilidade da Geórgia joga, quando muito, em desfavor do novo Primeiro-Ministro...

As vozes de que Ivanishvili é um "homem do Kremlin" começam a aumentar na Geórgia. Saakashvili parece ter compreendido, melhor do que o novo Primeiro-Ministro, que o balanceamento entre uma perspectiva mais pró-Russa e mais pró-Ocidente é praticamente impossível. Escolhas terão que ser feitas, pois mais vale um pássaro na mão...


Comments