Domodedovo em busca da independência???

Depois das eleições na Geórgia, da turbulência no Tajiquistão e dos protestos na Sérvia pensei que o espaço pós-soviético iniciasse um período de adormecimento. Mas estava enganado. A cidade de Domodedovo, parte integrante da Federação da Rússia, declarou-se como República Democrática da Rússia e pediu o reconhecimento da sua independência à União Europeia.

Domodedovo é uma pequena cidade a sul de Moscovo, fazendo de resto parte da malha urbana da capital da Rússia. Imaginemos que Oeiras pedia a sua independência; é algo do género o que aconteceu na Rússia, no primeiro dia, do décimo mês de 2012. A cidade em causa é, de resto, conhecida por albergar o maior e mais moderno aeroporto da capital.

A declaração de independência foi um acto desesperado da comunidade local que, inclusive, realizou um referendo em 2007 no qual mais de 98% dos habitantes se pronunciaram em favor do projecto independentista. Mas porquê tal iniciativa? Para chamar a atenção do Kremlin para a criminalidade crescente na região e para terminar com, o que dizem ser, o "autismo" das autoridades federais.

O movimento é, de resto, extraordinariamente inteligente; revelando que ainda existe audácia num mundo que por vezes parece mortiço. Sem recorrerem a protestos, manifestações e outras formas de luta que já esgotaram a sua utilidade prática, os moradores do Domodedovo agiram tendo em conta o maior medo do Kremlin de Putin: os projectos independentistas!

O pedido de reconhecimento da independência da República Democrática de Domodedovo teve em conta a tensão entre a Chechénia e a Inguchétia cresce; o crescente descontrolo do Daguestão; os protestos em Karachaevo-Cherkessia; a animosidade em Kabardino-Balkaria e o facto de o Tataristão e a Bashkortistão terem inflamado a retórica nacionalista e autonomista.

O pedido de reconhecimento de independência mostra uma admirável consciência da realidade envolvente e uma capacidade de pensar "out of the box". O mais extraordinário, acredita o Fidalgo, é facto de este acto poder desencadear uma onda de processos similares num estado com quase 300 grupos étnicos. E, pensa o Fidalgo, talvez no quase mono-étnico cantinho lusitano precisemos de iniciativas com este arrojo!


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