Clinton nos Balcãs... E nada mais...

Por estes dias Hillary Clinton, Secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros de Obama (o Presidente, e não o candidato), anda a fazer uma ronda diplomática pelos Balcãs. Na verdade, sejamos claros, Clinton veio dizer aos líderes da União Europeia o que os Estados Unidos das América pensam que deveria ser o futuro daquela que é a segunda zona mais complexa, tensa e frágil da Europa, logo a seguir ao Cáucaso.

A visita ainda não terminou e já se percebe uma incapacidade de inovação no discurso de Clinton, que chega a roçar o confrangedor. Primeiro disse na Bósnia-Herzegovina que a Unidade Nacional é o único caminho e que só a entrada na UE poderá garantir estabilidade duradoura. Clinton demonstrou assim o grau de ignorância dos EUA para com as complexidades locais.

Unidade Nacional? Na Bósnia-Herzegovina? A complexidade étnica; a ausência de maiorias étnicas; a incapacidade de diálogo interétnico; as divergências históricas, sociais e políticas nada disso conta? Unidade Nacional num estado que apenas subsiste por via de Acordos Internacionais, os de Dayton de 1995, que foram incapazes de gerar um ambiente de inclusão e de homogeneização das dissemelhanças? Unidade num estado que existe sem querer sê-lo?... Seriously? Ainda andamos com os artigos de Dankwart Rustow debaixo da cabaceira?

Mas depois de um tiro no pé, Clinton podia ter salvo a face na Sérvia... Podia, escrevo bem! Na chegada ao país que se vê abraços com o separatismo de estimação de Washington, a Secretária de Estado urgiu a uma reaproximação diplomática que só poderá acontecer caso a Sérvia entenda que o Kosovo é independente e ponto final!

Belo processo de negociação diplomática! O grande desentendimento entre a Sérvia e o Kosovo é exactamente sobre a independência do segundo em relação ao primeiro; mas é exactamente esse o tópico fora da "mesa negocial de reaproximação"?

É só ao Fidalgo que isto soa a pouco democrático, pouco justo, pouco equilibrado e pouco parcimonioso? É só ao Fidalgo que isto soa a mais do mesmo; a perigosamente mais do mesmo?... É só ao Fidalgo que isto se assemelha a mais um exercício de avestruz com a cabeça na areia? E tudo e tudo... Assim não vamos lá Mrs. Clinton!

E a Europa, vergada perante a tacanhez mental de Ashton (a quem confiámos os Negócios Estrangeiros de um algo que ainda não existe!), lembra-me as antigas aias de volta de Sua Senhoria... Estão lá; são visíveis mas dispensáveis... É isso que a Europa quer? Ser servente na sua própria casa? Servente, ainda para mais, de uma Senhoria que não entende a dinâmica das divisões; as particularidades do mobiliário? Servente num espaço onde deveria ser Suserana?

Assim não dá mesmo...


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