Revolução, transição e tortas dancake!

Nestes primeiros dias que se seguiram às manifestações Históricas que pontilharam as cidades portuguesas de Gentes com esperanças de um rumo menos cego, menos tecnocrata, menos desumanizado as leituras que vão sendo feitas pelos analistas e comentadores são quase unânimes (o unanimismo puro é sempre um sinal perigoso!) de que algo começou no último sábado...

Apesar disso, muitas são as pessoas que continuam a achar que o protesto se vai esfumar; muitos são os que apregoam que as 40 marchas vão saldar-se numa mão cheia de nadas. Não podia estar mais em desacordo! Mas antes de dizer os meus quês e porquês, apenas uma menção: é curioso que a maioria dos que acham que "nada vai mudar" sejam os Lordes do Sofá que por comodismo saloio ficaram sentadinhos nas suas poltronas, a ver tudo em directo... Coincidências por certo...

O que se começou no sábado foi um novo capítulo na História da Sociedade Civil. No sábado a Sociedade Civil mostrou que é mais do que um conceito académico, que é um organismo vivo com capacidade actuação, de interacção e/ou de interferência na Sociedade Política (a dita Elite Política). No sábado não foi apenas o dia do BASTA; foi o dia do Nós Existimos. No sábado começámos, não tenho dúvidas, uma Revolução Pacífica e sistémica.

Mas as revoluções, ao contrário dos golpes de Estado, não se fazem de um dia para o outro. Os golpes de Estado para serem bem sucedidos devem produzir efeitos em menos de vinte e quatro horas. As revoluções não se medem pela mesma bitola, pelo seu carácter mais profundo, mais intenso, mais multidimensional. As revoluções implicam transformações ao nível institucional, político, governativo (entendo que a Governação faz parte da política, mas que a política transcende o exercício da Governação) e, notoriamente, ao nível social.

As revoluções implicam estados transicionais (as ditas Transições estudadas pelos transitólogos, como é o caso do Fidalgo) nas quais se assistem a mudanças em vários níveis, em vários momentos, a vários ritmos e sempre com a noção de se atingir um ponto novo, que não sendo necessariamente melhor será obrigatoriamente diferente. Nem as transições, que desembocam em consolidações, nem as revoluções se fazem de modo instantâneo pelo tal carácter profundo, transformador e multidimensional já sublinhado.

Portanto porque acham os amigos Comodistas, aqueles que querem ver o país mudar mas que não se querem empenhar na mudança, que nada aconteceu? Que tudo acabará por não passar de um momento de ilusão e sonhos fátuos? Arriscam-se a ter de mudar o modo de pensar... E arriscam-se, de modo muito sério, a ter de dizer: "podia ter feito História, mas o sofá e duas fatias de torta dancake falaram mais alto"!

E, por agora, quedo-me por aqui...


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