O problema não está na receita, mas nos cozinheiros...

Por estes dias em que algo (não vou catalogar como Evolução, Transição, Revolução que ainda é cedo) parece estar a fermentar pelas ruas do país, certas palavras não me saem da cabeça: "é esta a receita para sair da crise"! Como o governo, especialmente o Sr. Gaspar, parecem adorar dizer tais palavras eu pensei em cozinhar este comentário...

O Plano de Austeridade, a receita que nos foi servida porque (não sejamos falsamente ingénuos) a encomenda-mos, só podia ter sabor amargo mas na sua essência, o amargor de tal menu, era algo mais do que necessário. Uma espécie de óleo de fígado de bacalhau... Sabe mal, mas fortalece o corpo. O problema é que a receita servida aos portugueses não só não fortalece, como desfalece um país que precisando de energia vai ficando cada vez mais mortiço.

Não sou, já o disse mais do que muitas vezes, entendido em economia, mas entendo o suficiente de cozinha para perceber que a receita com que se quis cozinhar tal menu só podia dar asneira. Assinou-se o primeiro memorando dizendo que tínhamos de fazer o mesmo, com menos recursos... Ora sabe quem cozinha que isso não é possível. Podemos acrescentar água para fazer "render", para fazer "surdir" mas perde-se sempre em sabor, em textura e/ou em qualidade.

Se não é possível fazer o mesmo com menos recursos, algo que o Chef Gaspar devia ter entendido, é ainda menos realista querer fazer mais com menos... Se eu tenho muito mais gente para alimentar e menos ingredientes chegará a um ponto em que juntar somente água e mesmo farinha não será suficiente. Chegará a um ponto que seccionar as fatias em triângulo deixará de ser suficiente...

Se a única coisa que o Chef faz é cortar de um lado, para colocar em dispensas já de si cheias, chegará a um limite em que a receita não se pode fazer. Chegará a um limite em que ou se vão buscar mais ingredientes, ou se muda a receita. O efeito final será o mesmo, cozinhar a dita Austeridade, mas a receita essa está visto que tem de ser outra...

E no meio desta verdadeira trapalhada, de um governo que parece autista e que roça o autoritarismo salazarento, decidi-me (pela primeira vez em anos) a vir para a rua mostrar que estou descontente. Decidi que chega apenas de escrever posts no blog ou de falar com certas pessoas, que até podem fazer chegar a minha mensagem. Decidi que é o momento de tomar a rua de assalto e de pedir por mais, por melhor e por diferente...

Não quero o troika fora de Portugal, pois isso é muito lindo mas não passa de populismo bacoco e desnecessário, mas quero Portugal devolvido a Portugal, perdoem-me as redundâncias. Vou para a rua como cidadão e como monárquico. Vou para rua porque se a República teve três chances (em pouco mais de cem anos) de se cozinhar e re-cozinhar e falhou talvez seja hora de mudar de cozinha!


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