O Fidalgo feito Revolucionário de Ladrilho

Depois de ter escrito sobre a necessidade de irmos para a rua enquanto povo; da necessidade de mostrarmos o nosso descontentamento de modo concertado e não de nos confortarmos no café com gritinhos populistas e demagógicos. Depois de ter apelado a que se usassem as Ruas para se falar com quem (parece) não nos quer ouvir, fiz a minha parte... Deixei o portátil ligado, a televisão no off e vim eu mesmo para a rua.

Diziam os slogans que queríamos as nossas vidas de volta, que queríamos portanto voltar para trás no tempo a uma era que supostamente já se pintou de dourado. Mas felizmente falhámos pois em vez de andarmos para trás, andámos foi para a frente. O País salpicou-se de gente nas ruas, andou perto do um milhão de cidadãos, que quis mostrar-se descontente e isso deixou-me contente... Passo a explicar!

Participei no protesto de Lisboa, no tal que terá reunido meio milhão de habitantes. E o nível de civismo e o sentido de que só juntos poderemos fazer algo melhor e diferente estava estampado nos rostos da maioria. A indignação era transversal a todos fossem as "tias" da Cascais, ou os "freaks" da Reboleira, fossem os "betos" do Estoril, ou os "brothers" de Chelas. Não faltou ninguém à chamada.

A marcha teve um profundo sentido simbólico; marchou-se porque acreditamos que existe caminho mas não este. Marchou-se porque sabemos que existe alternativas, outras vias, e queremos que a nossa voz seja ouvida porque sem nós "Eles" (os políticos) nem sequer se fariam eleger para os cargos, no Portugal do pós-1974. E "Eles" puderam relembrar-se ontem que o poder real está deste lado.

Dizia o Samuel Paiva Pires, fundador do sempre pertinente e acutilante Estado Sentido, que o país se unira; que não dava para reduzir o protesto a uma assemblage de Comunas, ou a uma "festinha" das sindicais (que vai dar tudo ao mesmo). Dizia o Samuel que muito boa gente terá que "sair da bolha" e vir para o mundo real, admitir erros, compreender falhas e (sobretudo) modificar o rumo que tão cegamente se escolheu. Portugal não pode ser laboratório de experimentalismo económico!

Cabe agora a quem Governa tirar ilações do que aconteceu ontem. Porque razão Lisboa veio em peso para rua? Porque razão Coimbra viu os maiores protestos desde 1974? E o mesmo em Viseu!? Tentar escamotear a realidade, ocultá-la, pintá-la com outras cores pode ser fatal. E lembro quem nos Governa que os militares, pela primeira vez em anos, emitiram um Comunicado com uma retórica intensa. E lembro quem nos Governa que este protesto foi uma Marcha, o próximo poderá não o ser...

Duas notas negativas... Cartão vermelho: Aos sujeitos, poucos que eu estive lá e vi, que por rebeldia parola e excesso de testosterona quiseram fazer distúrbios. Manchar com violência e desacatos aquele que foi um Dia Histórico e de grande elevação cívica é mais do que parolice, é egoísmo e estupidez no seu grau máximo. É hiper-estupidez diria eu...

Cartão amarelo: Aos comodistas! A quem ficou na praia porque estava um sol simpático. A quem ficou em casa porque estava calor. A quem ficou no café porque estava com amigos. A quem não foi só porque não; porque "as ruas nada mudam"... Aconselho a estes últimos que leiam um pouco de História de Portugal e da Europa antes de dizerem que "as ruas nada mudam".

A mensagem está dada: ESTAMOS DE OLHO! O país tardou mas acordou. E quem esteve nas ruas sentiu que algo de novo nasceu enquanto íamos para a Praça de Espanha; que algo de novo despontou quando gritámos às portas da Assembleia Nacional. A quem Gasparizou o país ficou o aviso que na próxima pode ser menos marcha e mais acção... Estávamos todos na rua, não se esqueça disso sr. Ministro.


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