Autonomias, separatismos e OPAs insulares...

Para alguém que estuda as questões relacionadas com o Espaço Pós-Soviético, mormente nas regiões do Cáucaso e da Ásia Central, as dinâmicas relacionadas com o separatismo e os desejos autonomistas dos povos são algo de "normal". Muitas das vezes, é minha convicção, olhamos para estes movimentos sociopolíticos com um enviesamento tal que não compreendemos bem o que estamos a estudar.

O estudo "guiado" pelas mãos perigosas do preconceito tende a dar resultados errados que, curiosamente, se tendem a repetir de investigador para investigador, de analista para analista. A autonomia e o separatismo não são necessariamente inimigas da modernidade e da democraticidade. A autonomia e o separatismo não são obrigatoriamente um mecanismo utilizado por povos subdesenvolvidos. A autonomia e o separatismo não são sempre a antecâmara da violência inter-étnica.

E toda esta introdução cheia de preocupação do domínio metodológico para falar de três países: Canadá, Irlanda do Norte e Japão. Os três desenvolvidos, considerados democracias de pleno direito e os três abraços desde há muito com dinâmicas de tipo autonomista, separatista, nacionalista, irredentista... E tudo o mais que aprouver ao leitor acabado em "ista"!

Canadá! O caso canadiano é curioso. O Quebec, ou Canadá Francês (para simplificar), há muito que joga este jogo entre a integração moderada e o desejo de uma independência plena. Os referendos, que já os houve, têm prevenido a cisão do Canadá até ao momento... E mesmo a débil vitória dos Separatistas nas eleições de ontem não deve mudar isso! É um separatismo light ou se preferirmos separatismo civilizado, onde não cabe violência desnecessária. Os actos de um homem não devem ser lidos como os actos de uma comunidade.

Irlanda do Norte! Ao contrário da vizinha a Sul, a Irlanda do Norte escolheu manter-se como parte constituinte do Reino Unido, mas isso não impede que a violência grasse no seu solo... De modo tristemente cíclico, Belfast é palco de violência inter-religiosa, que tem pouco de autonomista e/ou de separatista. O processo de separação das Irlandas era suposto ser um dos mais "civilizados" do mundo Ocidental, e não deixa de ser isso mesmo: uma suposição.

Japão! A surpresa do dia! Contra tudo o que é habitual nas lutas inter-estatais pelo controlo de certos territórios (Marrocos vs. Sahara Ocidental; Mali vs Mali do Norte; Geórgia vs Abkhazia; Moldova vs Transnístria) o Japão ofereceu uma solução para conseguir o controlo das ilhas de Kitakojima e de Minamikojima...

O Japão lançou uma verdadeira OPA sobre os ilhéus desabitados, surpreendendo todos os que vão acompanhando a política do Sudeste Asiático. Quase 21 milhões de euros para serenar um confronto diplomático que aqueceu nas últimas semanas. A China, apanhada de surpresa, ainda não respondeu. O mesmo Japão, pergunto-me, irá fazer também uma verdadeira OPA insular para conseguir o controlo das ilhas Kurill que disputa com a Rússia?

E o Fidalgo regressará amanhã!


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