Votocracia não é Democracia!

O Ocidente continua a insistir numa visão redutora de Democracia, decalcada de uma interpretação pouco inteligente do conceito de Schumpetter que limita a "medição" da democraticidade à ocorrência de eleições e à regularidade das mesmas. Ora uma Democracia que é na verdade uma Votocracia só pode dar em pequenas aberrações um pouco por todo o planeta.

Pela especificidade e pela abundância de fenómenos Votocráticos e pseudo-Democráticos, o Fidalgo centra-se hoje no caso Africano, mas não esquece que na Ucrânia, na Bielorrússia, na Bósnia-Herzgovina, na Macedónia, na Albânia e na Rússia as eleições são também pretexto para uma pálida imagem daquilo que deve ser, na realidade, a Democracia enquanto governo do povo, para o povo. E não governo do voto, para um (tipo selecto de) povo.

Angola! Para os transitólogos Angola é dada como um exemplo de transição falhada e nem mesmo o súbito crescimento económico (falar em desenvolvimento é um exagero!) nos deve fazer esquecer isso. O próximo capítulo desta Votocracia Africana decorrerá na próxima sexta-feira e deverá confirmar o poder de José Eduardo dos Santos que dirige a ex-colónia de Portugal vai para 32 anos. Democracia? Não me parece...

Guiné-Conakry! Uma das campeãs em golpes de Estado e sucessivas alternâncias entre governos mais Militares e governos mais Civis, deveria ter ido a votos em 2010... Conseguiu um acordo para ir em 2012... Mas o mesmo acordo é agora posto em causa, pela instabilidade política que atravessa o país uma vez mais. Se o Ocidente não visse Democracia como irmã da Votocracia já muito poderia ter mudado, mas como é "longe" vamos fechando os olhos... Mas Democracia-Democracia nem vê-la...

Somália! Elegeu por fim o Presidente do Parlamento Nacional, que foi votado no começo do segundo semestre. O processo esteve longe de ser pacífico e na realidade poderá vir a transformar-se em mais uma instituição oca de poder e sem capacidade real de controlo. As tensões internas na Somália continuam a ser apenas colmatadas com palavras bonitas de uma ONU que parece definhar de dia para dia, para tristeza do Fidalgo. E a Democracia? Essa não anda por aqui faz tempo!

Costa do Marfim! O último processo eleitoral (legislativas) decorreu com tranquilidade, mas contou ao mesmo tempo com uma taxa de participação historicamente baixa. Isto depois de as últimas presidenciais em 2010 terem levado o país a fracturar-se entre os apoiantes de Laurent Gbagbo e de Alassane Ouattara; depois de o país chegar mesmo a ter dois presidentes... Parece-me óbvio que votar apenas por votar está longe de garantir a "instalação" da Democracia.

E fico-me por hoje, por aqui...


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