Quem com força tudo ganha... Há força tudo tira...

Poucas surpresas vieram da Líbia... Ontem escrevia neste blog sobre os caminhos que o Conselho Nacional de Transição poderia seguir e sobre a oportunidade ímpar, de mostrar ao mundo Ocidental, um processo de transição centrado na vontade popular e não na popularização de certas micro-vontades. Confuso? Eu explico.

Ao manifesto de declaração de autonomia da Líbia Oriental, o Conselho Nacional de Transição respondeu com um muito assertivo "a Líbia continuará unida, nem que seja pela força"! Ora pergunto-me: alguém desse dito Conselho percebeu que com a concessão de autonomia a Líbia continuaria unida, apenas mudaria a capacidade desse mesmo conselho influir na vida sociopolítica da região? Claro que perceberam...

A região de Cyrenaica é demasiado rica para lhe ser concedida autonomia. Se fosse pobrezinha como o etno-nacionalista e independentista Karakalpakistão dentro do Uzbequistão de Islom Karimov, então Cyrenaica poderia ser autónoma. Lá diz Henry Hale que no jogo secessionista quem tem mais a ganhar com a união, tende a adiar a independentização. É o caso em que a autonomia basta... E, mesmo nestes casos, nem sempre as coisas são lineares... Não nos esqueçamos do Kosovo ou da Escócia!

Mas a Cyrenaica é rica como Cabinda em Angola e, nesses casos, convém às autoridades centrais manterem a centralidade desse mesmo poder político. Cyrenaica é demasiado rica, para ser também um tanto ou quanto autónoma, não vá o discurso independentista ganhar fôlego. E quem tomou o poder pelo pulso das armas, sabe que apenas com as armas poderá manter a união de um país feito de retalhos.

No caso da Líbia, dizer que esta é como um puzzle está longe de ser verdade. No máximo, a Líbia é como uma colecção de peças de diferentes puzzles, com formatos e tamanhos dissemelhantes e em que poucas, se algumas dessas peças, encaixam entre si. Uma vez mais, foi a geometria uniformizante da política Ocidental Novecentista que olhou para a Líbia e disse: faça-se um estado...

E por magia o que era plural, passou a ser uno. Este tipo de magias, que se centrou mais em procedimentos e burocracias mas, que se desligou da dimensão heterogénea e plural das populações dificilmente daria resultados, no longo prazo. E, infelizmente, há demasiadas Líbias em África! E de menos vontade para as solucionar!

A Líbia transicional poderia dar o pontapé de saída para mostrar que a Primavera Árabe sempre pode dar flores e não apenas esporos, indesejáveis agora que começa a temporada das alergias... É que está todo o Médio Oriente aos espirros, com o Irão e Israel pertinho de terem uma convulsão hiperalérgica, e não se vislumbram melhoras...


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