Putin, meu querido, porque complicas tudo?

E como se esperava Vladimir Putin ganhou as eleições presidenciais na Federação da Rússia, sem precisar de ir a segunda volta mas sem se livrar de escândalos que prometem fazer rolar muita tinta (e quiçá marchar muita gente) nos próximos dias.

Putin ganhou as eleições com quase 65% dos votos e logo choveram críticas de um lado e aplausos de outro... As reacções a esta eleição pautam-se, aliás, por um divergência nas reacções. Os observadores da CEI (Comunidade de Estados Independentes) dizem que as eleições foram limpas, transparentes e democráticas. A CEI, que desde o seu nascimento após a implosão da URSS, tem sido dominado pelo Kremlin aplaudiu as eleições no Kremlin... Estranho seria o contrário...

A OCDE, por seu lado, diz que "o jogo estava viciado" para que Putin voltasse a sentar-se na cadeira, de onde saiu quatro anos antes e onde poderá ficar por mais doze... É bom lembrar que os mandatos presidenciais na Rússia passam a partir de agora a durar seis anos. O presidente bielorrusso Lukashenko, abraços com uma troca de palavras pouco diplomáticas com a UE, congratulou o amigo Putin.

Da Ucrânia de Yanukovych, a Arménia de Sargysan, a Sérvia de Boris Tadic e a China de Hu Jintao juntaram-se aos que felicitaram Putin pela vitória. O Irão de Ahmadinejad e a Síria de Assad também entraram no coro do contentamento. Portugal e os Estados Unidos da América optaram, para já, pelo silêncio. Já a Alemanha de Merkel, sim de Merkel, também felicitou Vladimir Putin...

As fraudes nos actos eleitorais no espaço pós-soviético não são uma novidade mas, desta vez, são de uma inutilidade gritante. Vladimir Putin não "alterou" quase 15% dos votos, não é racional acreditar nisso (até porque algumas das mesas de votos envolvidas na dita fraude não foram validadas) e portanto a única coisa que justificará os actos foi o medo de ter de ir a uma segunda volta. Isso, ou então "old habits dye hard".

Não nos devemos esquecer que foi o Kremlin quem mandou instalar as câmaras nas mesas de voto; o mesmo Kremlin que viciou o jogo para a OCDE. E portanto só um amadorismo gritante tornaria "aceitável" uma super fraude filmada em directo e acompanhada on-line por todo o mundo. Não digo que a fraude eleitoral não existiu; digo apenas que a mesma foi inútil já que Putin ganharia sempre as eleições.

Curioso, contudo, alguns dos dados eleitorais vindos do meu Cáucaso Norte. É intrigante notar que a república da Chechénia regista a taxa de participação eleitoral mais elevada de toda a república (quase 95%) quando a mesma Chechénia, dias antes, terá sido "a origem" de um putativo atentado a Putin. A Chechénia dos rebeldes separatistas terá votado em 99,73% no ainda primeiro-ministro Putin. Mas então os chechenos querem matar o agora eleito presidente? Ou querem elegê-lo em gáudio e apoteose?

Mais interessante ainda... A republica do Daguestão, onde fervilham vários grupos étnicos que têm pressionado a administração federal para uma maior autonomia, foi a segunda entidade político-administrativa que mais votou em Vladimir Putin...

E a terceira destas entidades da Federação da Rússia que mais apoia Putin é a Karachaevo-Cherkessia, também no Cáucaso Norte, e também esta com dois grupos étnicos (Karachay e Cherkessk ou Circasses) que almejam, pelo menos, uma maior autonomia... Pelo menos... É por isso normal que Putin tenha-se aliado aos nacionalistas mas tenha travado os intentos da campanha "Stop Feeding the Caucasus". É por isso normal que o Cáucaso Norte continue a interessar ao (quase) novo inquilino do Kremlin!

E ainda me perguntam porque estudo o Cáucaso Norte...


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