Notas sobre a questão "Jovem": Desemprego e Educação

Muito se tem dito sobre a questão dos jovens. Uns aludem para o facto de que esta crise irá criar uma "geração perdida" e uma se tudo correr bem, ou arriscam-se a ir para o triturador da História mais gerações. Outros lembrar que esta é a "geração com mais formação" da nossa História; contraposto por outros que relembram que "a geração i-touch" é também a menos resiliente. Em que ficamos?

É difícil posicionar-mo-nos nesta questão, isso temos por certo. É verdade que o investimento que se fez na educação, talvez a única bandeira meritória do Republicanismo (apesar de o impulso ter vindo de uma série de reformas da Monarquia Constitucional e Parlamentar que tínhamos), começa agora a colher frutos mas parece que o "agricultor" terá que deitar essa fruta fora. Porque não está amadurecida? Não! Porque não tem mercado para a colocar...

Uns dirão que a emigração é solução e pode sê-lo; mas feita com peso e medida. A verdadeira fuga de cérebros e de gente altamente qualificada deveriam ser uma preocupação do governo; deveriam, mas para além de boas intenções tem-se visto pouco, pouquíssimo aliás... É preciso, digo eu, exterminar certas ideias irrealistas que fomos alimentando.

Porque é que ainda olhamos para as profissões técnicas com desdém? Porque troçamos dos que pensam na palavra Agricultura? Porque é que ainda pensamos numa série de áreas (ligadas à Cultura e ao Espectáculo) como profissões de segunda? Um bom mecânico e um bom serralheiro são tão úteis como um bom Advogado ou um bom Médico. As profissões técnicas precisam ganhar um novo élan social. É importante repensar as profissões técnicas sem hostilizar (como se tornou moda) os que prosseguem os seus estudos...

O país precisa de agricultores, certíssimo, e precisa de mecânicos, jardineiros e serralheiros mas não pode dispensar os Filósofos, os Sociólogos, os Politólogos pois um país que não se sabe pensar é um país que se condena a um definhamento lento e penoso. Não temos que ser todos Doutores, parece-me óbvio, mas alguns terão que continuar a sê-lo. É bom que não nos esqueçamos disto.

Na questão do desemprego jovem muito há a fazer; mas ver o governo a "atacar" o problema do Emprego com Estágios é o mesmo que olhar para uma ventoinha que tenta prevenir o derretimento de um cubo de gelo; funcionará a prazo mas apenas a prazo. O emprego deve ser combatido com Emprego e, mais do que isso, com criação de sistemas que promovam o Mérito e a Criatividade.

O Empreendedorismo tornou-se chavão corrente nestas coisas e, inclusive, tornou-se nome de muitas Unidades Curriculares mas se ser Empreendedor fosse "ensinável" a questão não seria empreendedora. Saber inovar implica romper com canônes e com padronizações... Ora o ensino não mais é do que uma padronização do conhecimento. É mais útil ter uma Unidade Curricular de Música num curso de Engenharia (falo muito a sério) do que o dito Empreendedorismo Escolástico.

Para se atacar o "desemprego" que se diz Jovem ouçam-se os Jovens... E falo dos Jovens todos e não apenas os que pertencem aos organigramas dos partidos e às suas estruturas paralelas (as J's). Reforce-se a disciplina na sala de aula. Acabe-se com o facilitismo, que promove a mediocridade. E termine-se com o psicologismo do aluno-vítima... Afinal, o que estão nas salas de aula são alunos e não pecinhas cristalinas de museu...

E acho que me fico por aqui...


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