A hora em que Senegal festeja o fim da Era que nem começou...

A Imprensa Internacional e, mais importante, a população do Senegal saiu ontem para rua para celebrar a vitória de Macky Sall nas eleições presidenciais que tinham também na corrida o actual Presidente Abdoulaye Wade. As eleições, imbuídas num imerecido espírito libertário, foram vistas como uma oportunidade de encerrar uma Era!

Uma Era? Wade não governava, como se poderá pensar, há mais de 20 anos mas apenas e somente há 12 anos. Ora pensemos em conjunto: a maioria dos presidentes dos estados do mundo que se diz Ocidental tendem a conseguir dois mandatos consecutivos...

Nos países dessa esfera ocidentalizada os mandatos presidenciais flutuam entre um mínimo de 5 e um máximo de 7 anos de duração... E portanto esses Presidentes, de estirpe democrática, exercem os seus cargos com legitimidade, pelo menos do ponto de vista procedimental, entre 10 a 14 anos.

Ora Wade, Presidente do Senegal, acumulou apenas 12 anos de mandato... É certo que concorria a um terceiro mandato; é certo que se ganhasse iria ficar 18 anos no poder. Mas não ganhou; não se eternizou e portanto a tal Era Wade é uma não-existência.

O Senegal, diga-se, não assiste a uma grande viragem política, como o Ocidente quis ler nas eleições. Aliás é importante lembrar que Macky Sall chega à cena política sobre os auspícios de Wade. Sall é um protegido do sistema e não um contestatário libertário, colado à imagem de uma Primavera que é cada vez mais Invernal... A Síria, a Líbia e o Líbano são a prova disso.

O Ocidente anda ávido de provas de que a democracia enquanto procedimento é conceito suficiente; é fórmula de inolvidável sucesso. E quis ler no Senegal mais, muito mais, do que havia para ser dito. O Senegal prova apenas que o modelo pode funcionar se a população quiser que funcione; mas a isso é preciso adicionar uma boa dose de realismo que vai faltando nas leituras feitas do fenómeno.

O Fidalgo só lamenta que com o Mali em colapso; com a Costa do Marfim num delicado processo de re-unificação; com a Etiópia e a Eritreia próximas de mais uma guerra; com a Síria mergulhada numa guerra civil; com a Somália tomada de assalto por movimentos de guerrilha e com a Nigéria no limiar de uma implosão etno-religiosa gastemos tanta energia com uma notícia que não é o que queriam que fosse...

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