E a sublevação no Mali vai de mal a pior!

Anda complicada a vida no Estado do Mali e não na Nação Mali, como se vai noticiando por aí. As fronteiras das Nações são fluídas, impossíveis de uma demarcação topográfica e dependendo de uma dupla dinâmica de auto-consciencialização de pertença dos sujeitos a um certo grupo mas, também, de aceitação do grupo desse mesmo exercício de auto-consciencialização. Pelo menos para um etno-simbolista como eu é assim que funciona...

O Estado, por seu lado, tem fronteiras físicas; é passível de ser "impresso" num mapa e, como o Mali provou, possível de ser assaltado num Golpe de Estado, que vai correndo muito pior do que o esperado. Porquê? Porque é sempre fracassado o Golpe de Estado que não consegue surtir frutos nas primeiras 48 horas... Tudo o que se arrasta para lá das 48 horas passa a sublevação militar-guerrilheira-independentista; tudo o que passa as 48 horas deixa de ser Golpe de Estado na sua essência.

E por isso o que se passa no Mali, apesar de noticiado com o epíteto Golpe de Estado, é, para mim, neste momento, uma sublevação militarizada que causou a cisão de um estado frágil em várias facções políticas. Os pró-sublevação, os pró-governo e os pró-tuaregues. Os pró-sublevação representam parte do poderio militar do país e iniciaram o movimento achando que com a queda do governo viria um executivo forte, capaz de conter a rebelião tuaregue que clama por direito a um Estado seu que seja independente e soberano.

Os pró-governo contam com a "restante" força militar e com o apoio, pelo menos diplomático, da União Africana e da União Europeia. A primeira das Uniões, aliás, avisou já aos golpistas que está a ponderar um embargo económico. Uma incursão militar com forças dos estados vizinhos não está descartada, mas também não está ainda discutida com profundidade. A União Europeia apela, como sempre, ao diálogo e ao retomar da normalidade... Se é que a normalidade existia no Mali pré-golpe!!!

Os pró-tuaregues e os tuaregues em si mesmos foram a causa do golpe, que colocou o eixo Euro-Africano em sobressalto. A terceira parte desta história clama pelo direito a ter um estado seu, no que aliás parece ser uma nova vaga autonomista-independentista em África. Basta lembrar-mo-nos que a Somalilândia voltou a pedir a independência da Somália; o Reino de Barotseland quer "sair" do Zâmbia; o Saara Ocidental tenta ainda "fugir" a Marrocos; o estado do Nilo Azul no Sudão fala cada vez mais em autonomia alargada; a província Cyrenaica na Líbia também clama por autonomia... E a lista podia continuar..."

Curiosamente fora de África, palco de todo este teatro, e fora da Europa, com ligações históricas fortíssimas na região (sendo isto muito válido especialmente para a França), o Mali vai surgindo timidamente nas agendas regionais. Na Ásia as preocupações centrais são as eleição na Birmânia; a descida ao caos no Paquistão; a instabilidade no Afeganistão; o desgoverno no Iraque e a crise política que se vai sentindo na China.

Na América Latina interessam os protestos ora estudantis ora dos activistas homossexuais Chilenos e a legalização das drogas na Colômbia, bem como a visita do Papa a Cuba e saúde do Sr. Chavez da Venezuela. África fica longe! Para os Estados Unidos da América, África passou a ser ser sinónimo de Uganda. A "campanha Kony 2012" lançou o drama do Uganda para a opinião pública norte-americana, numa manobra mediático-diplomática que tenta justificar a entrada do país de Obama (o Mr. Nobel da Paz) num país com recém-descobertas jazidas de petróleo... Coincidências; Right Mr. President?


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