Cortar e racionalizar não são sinónimos... Os transportes que o digam!

Continuo sem perceber duas coisas: 1.) Porque é que as empresas públicas têm agora, de súbito, todas que dar lucro? Não é suposto o "comportamento" destas ser dissemelhante do que acontece no privado e por isso mesmo estas são públicas? 2.) Onde nascem os buracos orçamentais destas empresas? É que os transportes em Lisboa, salvo excepções, andam cheios de gente...

Ou seja, andam pejadinhos de clientes que na sua larga maioria pagam o bilhete. Devemos sempre contar com um ou outro pelintra, que "fura" o sistema! Não ria... Nem pense "espertos"... É por uns acharem que sabem demais, que agora todos temos de menos... De bem menos! Deveria ser natural a noção de que se deve pagar um serviço que se usufruiu. Mas isto sou eu a pensar alto, claro!

Falando em ter menos... Andar na linha Verde de Metro em Lisboa tornou-se um exercício caricatural daquilo que acontecia há algumas semanas atrás. Eu explico: a redução pouco inteligente, em nome da racionalidade económica, para três carruagens das composições que circulam na Linha Verde criou um espectáculo matinal absurdo, que torna o Surrealismo de Dali em algo tangível...

Ter um lugar sentado no Metro deixou de ser um direito; passou a ser um privilégio de uma minoria. Os restantes passageiros, que pagam o mesmo bilhete, vão-se espremendo uns contra os outros; num desconforto dantesco que roça o pitoresco. É estupidificante ver como as pessoas se sujeitam a absurdos em nome da mobilidade urbana... E depois admiram-se que os lisboetas não usem transportes públicos?

Quando a Comissão que deveria repensar os transportes falou em racionalizar os mesmos e em aumentar a sua interligação achei a ideia meritória... Mas é de lamentar o modo provinciano, amador mesmo, como essa ideia foi implementada. Em nome das ordens de D.ª Troika fizeram-se cortes cegos e reduções incoerentes por quem, apesar de gerir os transportes públicos, não os usa... E isso, digam o que disserem, poderia evitar tantos erros!!!

Os funcionários da CP, em particular, contribuem para que os lisboetas pensem cada vez menos nos transportes públicos. A lufa lufa constante de greves, mais paralisações, mais protestos, mais greves e mais paralisações já roça o enfadonho. Agora o normal é saber que algum serviço da CP está em greve raro, quase mítico diria eu, é ver a CP 100% operacional.

Enquanto imponderáveis como estes, de uma Linha de metro reduzida a uma caricatura de si mesma e de uma empresa transportadora que mais parece um paraíso grevista, forem existindo é certinho que será difícil "demover" os transeuntes de usarem os seus transportes privados. Enquanto se pensar em racionalizar usando tudo menos a razão, parece-me natural que o resultado seja tudo menos razoável. Assim nem dez planos de austeridade nos põem na rota certa!!!


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