Apontamento breve sobre a ausência de uma verdadeira etno-política...

O BBC News noticiou hoje que o Reino de Barotseland tem-se movimentado no sentido de conseguir a independência do Estado do Zâmbia onde está incluso e, ao que parece, recluso. Barotseland, ao que li, é a terra dos Lozi e deteve um estatuto especial aquando do período colonial britânico na região. Em 1964 com a conquista da independência pela Zâmbia o Reino foi absorvido no novo estado.

Conheço pouco da realidade local para poder avançar com um comentário muito elaborado, mas curiosamente o caso de Barotseland lembrou-me do que aconteceu com a Transcaucasiana Abkhazia. Esta república, lembro, declarou-se em 2008 unilateralmente independente contando, todavia, até ao momento com apenas alguns reconhecimentos da comunidade internacional.

A Abkhazia também gozou de um estatuto especial após a sua inclusão no Império Russo, até porque o Principado da Abkhazia constituía uma realidade distinta dos Reinos da Geórgia. Digo Reinos e não Reino porque depois de um período inicial unidos como Reino da Ibéria, o território da Geórgia, sacudido por vagas de invasões Persas e pelas campanhas de Tamerlane, implode em vários reinos e principados.

A Abkhazia conserva o seu estatuto especial durante todo o período soviético, embora seja notório uma submissão aos desígnios não só de Moscovo mas também de Tblissi (antiga Tiflis). Apenas nos confusos anos 1990, quando Ielstin dizia aos povos da arrasada União Soviética para que se engolissem toda a autonomia que se quisessem, a Abkhazia foi incluída como refém no território da Geórgia.

Mas qual a relação disto com o pedido do Reino de Barotseland? Tudo! Não consigo entender qual o benefício da comunidade internacional em perpetuar situações de clara injustiça. A Abkhazia é tanto georgiana quanto Estocolmo seria portuguesa e o mesmos se dirá de Barotseland. Uma comunidade internacional que não consegue resolver os "óbvios" não pode querer resolver os "não-tão-óbvios" problemas da Síria, da Líbia ou mesmo da Somália.

Enquanto o elemento etno-nacional, que plasmo em toda a minha tese de doutoramento, não for incluído de modo sério na decisão política; enquanto este elemento não sair da academia e da diplomacia para o decision-making poderemos contar com muitas e muitas Líbias... Poderemos ter a certeza que as Somálias, que as Filipinas, que as Líbias, que as Nigérias vão continuar a multiplicar-se...


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