Quem precisa mais de quem Sr. Roesler?

Foi longa a espera ontem para que os deputados gregos fizessem o que já se esperava: aprovassem o pacote de austeridade para verem ser aprovado um segundo resgate. Foi longa a espera e, para meu espanto, tive que seguir pela RAI International (Itália) o debate no parlamento grego porque nem BCC News, nem Aljazeera, nem EuroNews, nem France24, nem SIC Notícias o seguiu minuto a minuto como a RAI International.

Enquanto o debate decorria Atenas pegava fogo literalmente! 80.000 manifestantes em Atenas, mais 20.000 em Tessalónica e outros grupos noutras cidades helénicas mostravam o seu desagrado para com a austeridade da União Europeia apesar de, curiosamente, a maioria dos entrevistados pelas televisões mostrar vontade de querer ficar dentro do euro. Protestavam, diziam alguns, por uma questão de dignidade que, por estes dias, parece ser vendável...

45 edifícios pegaram fogo, enquanto se inflamavam argumentos no Parlamento grego e se adensava a espera pela votação final (ia ficando sem unhas!). Mais de 170 pessoas foram feridas, quando os actos de brutalidade substituíram as palavras e tiraram a razão a quem era seu dono...

E os deputados debatiam; oravam para convencerem os pares e, pareceu-me a mim, para se convencerem a si mesmos de que esta é a melhor solução, por muito má que pareça. Escolhiam o pior, para evitarem o péssimo; ou o abismo...

E depois de tudo isto; de a Grécia se vergar à União Europeia que devia ser parceira e não Suserana ainda tenho que ler que o Ministro da Economia Alemão continua céptico? A sério??? O desespero de milhares de pessoas e o ar abatido com que os deputados venderam a sua alma não lhe chegou? O que esperava mais Sr. Ministro? Uma saudação qualquer a um retrato de Angela Merkel? Ou ao seu retrato, por sinal?

A Grécia irá passar por um período de verdadeira regressão social; com cortes salariais de 22%; com o desmantelamento do estado social, reduzido ao seu mínimo espectral; e com a destruição de sonhos e oportunidades não para uma, mas para várias gerações. E, mesmo assim, o Sr. Ministro da Economia da Alemanha vem dizer que ainda falta convencer a Europa?

Eu, que faço parte desta Europa, lhe digo que a mim não precisam de convencer. E nem deviam precisar de o convencer a si... A Grécia, arrasada pelos tanques de guerra da Alemanha nazi, soube reerguer-se e recuperar o seu sorriso. A Grécia que depois de saqueada pela Berlim de Hitler soube perdoar a Berlim titubeante do pós-guerra. A Grécia que, relembro, não provocou duas guerras mundiais, tem sabido mostrar uma capacidade de resiliência extraordinária desde a sua formação em 1822.

A Grécia não devia precisar de convencer a Europa coisa nenhuma... E eu, que tenho defendido a manutenção do euro, começo a pensar que uma saída faseada do mesmo poderia ser uma solução a ponderar; não gosto de apontar receitas em áreas que não domino, pelo que isto é apenas um brain teaser. Começo a achar que a defesa de uma ideia, por muito nobre e interessante que seja, tem os seus limites... E parece-me, a mim claro, que a Grécia prova que os limites foram alcançados.

Se a Alemanha, que eu continuo a achar que é grande demais para o euro e não o inverso, não quer sair do euro pois que Portugal, a Grécia, a Irlanda e talvez a Espanha e a Itália saiam progressivamente deste. Quero ver se a pujança económica Alemã continua quando não puder escoar os seus produtos para a eurozona... Que ver se o poderio aguenta, quando a solidariedade comercial se esbater e outras parcerias forem procuradas. Afinal, Sr. Ministro da Economia Alemã, quem precisa convencer quem?

E fico-me por aqui...


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