Quando o silêncio não é de ouro, mas de diamante...

Deixei de fazer planos sobre aquilo que quero escrever, mesmo sendo este blog meu! De cada vez que começo a pensar num comentário sobre um tema A eis que, de súbito, surge um tema B que me rouba a atenção e que merece o meu mais acutilante comentário. E, pelo terceiro dia consecutivo, aquilo que a classe política diz volta a alimentar a prosa do Fidalgo.

Depois de Passos Coelho com o "drama dos piegas" e de Nora Berra com "conselhos mal aconselhados para os sem-abrigo" eis que voltamos a Passos Coelho... Desta vez a pérola que Passos Coelho disse e que, tenho a certeza, irá alimentar comentários dos especialistas e dos leigos, foi que "os políticos são mal pagos em Portugal". A sério? Acha mesmo que é tempo de pieguices???

É certo, e não devemos obliterar tal facto, que o Primeiro-Ministro diz logo em seguida que o momento não é o mais oportuno para se discutir a questão remuneratória e nisso estamos de acordo. Mas pergunto-me: se o momento não é o mais oportuno porque levanta a questão? Porque não se debruçar sobre ela apenas no reino privado da sua mente? Ou achava mesmo que uma frase dessas não iria fazer logo manchete?

Além da total ausência de timing nas declarações que fez, esta nova escorregadela discursiva preocupa-me por duas razões: 1.) O Primeiro-Ministro não é capaz de planear uma única declaração que não esteja envolta em momento que roçam o absurdo e o pateta? 2.) Não existe um Assessor de Imprensa, no meio do staff governamental, que vá editando e "concertando" os discursos do nosso Primeiro-Ministro?

Num momento de crescente tensão social, mesmo assim louvo o estoicismo dos portugueses (embora por vezes me pergunte se é estoicismo ou se é comodismo!), é preocupante que tanto o Presidente da República como o Primeiro-Ministro não tenham cuidados dobrados em tudo o que dizem, como dizem, quando dizem, para quem dizem. E pior... É preocupante, alarmante mesmo, verificar que tanto o PR como o PM vão achando que são mal remunerados.

Num país em claro retrocesso social é mesmo necessário a classe política, pintada pelas cores da avareza, mostrar que é não só avarenta mas também gananciosa? E caríssimo PM se me disser que ganha "menos bem" em comparação com outros cargos públicos tenho que lhe dizer que a culpa é da sua equipa governativa... Porque fizeram um diploma sobre tectos salariais que logo incluiu excepções? Porque não se fez um diploma sem excepções camufladas em desculpas pobrezinhas?

As palavras são muito mais do que sons... E se até agora as consequências das mesmas vão sendo frágeis, nada garante que assim seja nos meses que virão por aí... O Fidalgo aconselha, por isso, prudência caro Primeiro-Ministro! Ou então silêncio... Muito e bom silêncio...


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