Putinismo, putinofobia e o "ceguinho" do Ocidente

Vladimir Putin tentou mostrar ao mundo que é popular em casa. Ontem organizou um super comício que terá contado com qualquer coisa como 100.000 apoiantes mas o mundo não quis saber. Hoje, zangado com o modo como a revista norte-americana Times o retratou, Putin terá acusado a publicação de "Putinofobia". E, quer-me parecer, que Putin tem, desta feita, alguma razão...

O dito eixo euro-americano ficou extasiado de alegria com as manifestações anti-Putin, que mereceram larga cobertura mediática e inúmeros comentários inflamados sobre uma possível mudança no Kremlin e sobre um muito forçado efeito de contágio da Primavera Árabe na região. O mesmo eixo euro-americano não mostrou, não falou, não quis saber, dos protestos pró-Putin. E depois admiram-se que o Putin fale em parcialidade?

Vladimir Putin, obviamente, exagerou na retórica anti-Ocidental do seu discurso. Mostrou-se militarista, imperialista, eurasianista e todos os outros epítetos que lhe quiserem chamar. Na verdade mostrou apenas internamente o que a população russa queria ouvir; que é um líder forte, capaz, audacioso, corajoso. Putin não quis afronta o Ocidente, embora esteja pouco preocupado com a colateralidade das suas palavras que eram para os russkyie e ponto final.

O discurso do Primeiro Ministro que a 4 de Março irá, com muita certeza, ganhar as eleições Presidenciais não deve, nem pode, ser analisado à luz de conceitos e visões ocidentalizadas. As influências sociopolíticas russas misturam outros factores e quem não os compreende, dificilmente entenderá o que Putin disse, porque o disse e para quem o disse.

Mais ainda! Já vai sendo de alguns analistas políticos pararem de associar todos os protestos, todas as marchas, todos os movimentos sociais fora do espaço europeu como sendo influenciados pela Primavera Árabe. Sou o primeiro a defender a teoria do dominó; mas reconheço nela limitações naturais. O Nepal e o Quirguistão entraram em convulsão muito antes da Tunísia... Os eventos na Nigéria e no Chile são de natureza dissimilar aos do Egipto...

Primavera Árabe que, a julgar pelos primeiros resultados, mais parece um Inverno ao estilo siberiano. O Egipto e a Tunísia perderam os autocratas políticos; ganharam os islamitas pseudo-moderados. A Líbia e a Síria desceram ao caos da guerra civil. Em Marrocos os salafitas vão sendo afastados do poder, pelos islamitas conservadores e o mesmo vai acontecendo na Argélia... É esta a Primavera Árabe que tanto orgulha Obama e companhia?

Tentar ver o mundo sempre com os mesmos olhos, sem a capacidade de entendermos diferenças à luz de diferentes parâmetros e paradigmas de análise é a causa de muitos preconceitos, que geram conflitos que começam na força das palavras e acabam na violência dos actos. Vai sendo tempo de o mundo ocidentalizado descer do seu pedestal cristalino e perceber que à mais vida para além do eixo euro-americano. E vai sendo tempo de percebermos que homogeneizar apenas porque sim só pode dar asneira...

E com isto lá vou eu de fim-de-semana!


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