O regresso de quem nunca chegou a sair...

Anda quente a vida política na Rússia e, por muitas razões, vou continuar hoje a escrever sobre o país dos czares. As eleições Presidenciais deste Domingo podem ter o duplo significado de abrir/fechar um ciclo, dizem os analistas políticos. A mim parece-me que são apenas uma transformação de um ciclo que, na realidade, se mantém.

Ora vejamos! As recém anunciadas reformas ao sistema eleitoral, anunciadas hoje, poderão significar o final de um ciclo mais autocrático de pendor neo-patrimonial, para uma era mais ocidentalizada, mais próxima do que a União Europeia enseja. As recém reformas fazem parte de um habitué político muito comum; juntando-se este novo diploma legal às anteriores reformulações de 1995/1996, 2000, 2004, 2008.

A Federação da Rússia não vai entrar num novo ciclo político apenas porque ocorreram algumas manifestações de rua nas duas maiores cidades do país; não reconhecer o imenso capital político de Putin na Rússia rural é um erro crasso. A Rússia deu aliás provas de que não vai fechar nenhum ciclo político, quando hoje se posicionou ao lado da Bielorrússia na condenação às novas sanções impostas pela União Europeia. A mesma Bielorrússia que o ano passado o candidato presidencial Vladimir Putin disse que "a prazo teria que voltar para a Rússia"!

A Federação da Rússia poderia, após as eleições, entrar num novo ciclo político; dando-se relevo ao discurso militarista de Putin. A tónica eurasianista, que sempre tem marcado a governação do Kremlin, não deu sinais de esbatimento e, quando muito, o discurso serviu para acalmar as vozes internas e conseguir o apoio dos nacionalistas, dos nacional-extremistas e de alguns saudosistas comunistas. Putin falava para dentro sem se preocupar se o olhavam de fora.

A Rússia vai manter o mesmo ciclo, com os mesmos protagonistas, com a mesma trama, com a mesma desenvoltura, redecorando-se apenas a casa e imprimindo-se uma nova dinâmica que não chega a ser inovadora. A Rússia vai manter o mesmo ciclo político, quando um mais do que conveniente atentado a Putin organizado por chechenos dá o último impulso para as presidenciais de 2012, do mesmo candidato que aparece na cena política russa com os muito suspeitos atentados dos chechenos no Daguestão...

A Rússia não vai mudar de ciclo porque isso é perigoso; os russos sabem-no; Putin sabe-o; e no Ocidente também o sabemos... Mas imbuídos pelo espírito da (fracassada) Primavera Árabe e mergulhados no nosso habitual snobismo fingimos que não sabemos... E nada mais tenho a dizer!

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