E se estivermos a pedir que Pareçam e a reclamar que Sejam?

Quando falamos ou escrevemos sobre política estamos habituados, diria aliás que estamos mal habituados, a pensar que parecer é tudo o que mais importa aos actores políticos é parecer e não ser. Que o que Lhes importa é o "embrulho" e não o conteúdo. Que o que Lhes importa é mais o gesto pelo gesto, do que o gesto com um sentido profundo.

E, apesar de isto não ser um truísmo, a verdade é que são inúmeros os exemplos que vão alimentando esta ideia... E pior, por vezes, de modo inconsciente, nós próprios entramos em histerias efusivas que dizem aos actores políticos "sim, finja para mim que eu até gosto"! Porque o que Eles fazem é obviamente reflexo do que Nós queremos; já que o Voto (em sociedades consolidadas ou em fase de consolidação democrática) tende a ser o mecanismo de tornar uma parte de Nós em Eles. E nem vou perder tempo a escrever sobre fraquezas e debilidades do Voto...

Um único exemplo mostra como, por vezes, enviamos para os actores políticos mensagens erradas que desembocam em respostas certas aos nossos erros. Resultado: asneirada! Foi anunciado hoje que será uma mulher a concorrer às presidenciais mexicanas, em nome do actual partido governante. Obviamente que o Ocidente ficou efusivo com a notícia e as redes sociais se encheram de comentários como: Agora é que vão lá com uma mulher! Uma mulher é que é! Grande mulher! e toda uma gama de trivialidades similares.

Não tirando o mérito a ninguém (até porque quando se tem quatro irmãs passamos a valorizar as mulheres com maior intensidade), acreditamos mesmo, enquanto sociedade civil, que o facto de ser uma Ela e não um Ele é solução para os problemas de um Estado? Achamos mesmo que a brutal onda de violência em que mergulhou o México será solucionada porque poderá ser eleita uma Presidente? É mesmo necessário entronizar a candidata só por ser Mulher?

Sou pela paridade, pela igualdade e pela democraticidade dos sistemas; não gosto de entraves, de nichos, de proteccionismos bacocos. Mas a paridade tem de ser real e total. Incluir uma mulher no sistema não é garante de paridade só porque deixa de ser um Ele contra Ele para ser um Ele contra Ela... Mas, e todos já fizemos e passámos por isso, sempre que se fala em Mulheres na Política nem nos questionamos sobre os seus méritos e deméritos... Atiramos logo confetis e purpurinas ao ar e fazemos uma festarola! Haja juízo!

Acho fabuloso que uma mulher avance na sociedade política mexicana, apesar de não perceber o que terá isso de original. Ou esquecemos que Dilma Roussef (Brasil), Cristina Kirchner (Argentina), Laura Chinchilla (Costa Rica), Dalia Grybauskaité (Lituânia), Ellen Johnson-Sirleaf  (Libéria), Pratibha Patil (Índia) e muitas outras mulheres ocupam cargos de topo na hierarquia dos seus estados?

Se queremos que eles sejam mais do que parecem, então temos que repensar as nossas reacções a pseudo-notícias. Se queremos mudanças políticas devemos agir para possibilitar essas tão almejadas mudanças. Deixo aqui o repto...


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