É pena o bem dito, não ser (também) bem feito...

Começou a importante Cimeira Londrina sobre a Somália, na qual se irão debater os progressos (se os houve) que o país registou mas, mais importante, na qual se irão delinear os próximos passos. O primeiro dia começou com uma ideia interessante que me fez reflectir, uma vez mais, sobre o modo como a Europa olha para África. A era colonial passou, mas ninguém diz que o paradigma colonial foi com o fim da era.

Disse Yoweri Museveni, líder do Uganda, que para os problemas africanos funcionam melhor as soluções africanas. Saúdo de pé a ousadia de o dizer Sr. Museveni, mas a verdade é que as soluções africanas que defende têm tardado em surgir. África é, na sua maioria, um continente em "linha de espera". Esperam a resolução dos traumas coloniais; esperam o crescimento; esperam o desenvolvimento; esperam a pacificação; esperam, esperam, esperam...

E pouco se tem resolvido! As soluções africanas que defende, e que creio que teriam sentido se imbuídas num espírito e num contexto verdadeiramente africanista, não podem ser desenhadas por esta elite política que prova, dia após dia, a sua incapacidade e, pior, a sua apatia, para resolver problemas da população. As tais soluções africanas que preconiza deveriam já ter surgido. Mas África preferiu adiar-se a si mesma; por-se em linha de espera.

Duas coisas fazem-me alguma confusão quando penso em África. Primeiro: a sujeição dos líderes locais a todo o tipo de chantagem política ocidental, por culpa da virulenta subsidio-dependência que alimenta apenas uma pequena elite e que deixa morrer de fome centenas de milhares de almas. Segundo: a incapacidade dessas mesmas elites políticas governarem por e para o povo e, mais gritante, a incapacidade de se chegarem a consensos necessários.

Se já percebemos que o mapa geopolítico, imposto pela Europa, não funciona porque não se redesenha o mesmo? Porque insistimos em manter em funcionamento, o que sabemos que não funciona? Porque não mostram os líderes políticos africanos essas soluções africanas que, quando tomadas, irão fazer corar muitos políticos euro-americanos. Disso não tenho dúvidas. Porque se mantém o mapa de África em espera, quando a espera salda-se em corpos e em vidas terminadas demasiado cedo.

Podemos apontar o dedo à passividade do dito Ocidental perante o modo como vai sendo governada a África no século XXI. Mas não só não alinho em intervenções ocidentais, que tendem a impor modelos e a não resolver problemas; como também acho que as sociedades civis africanas têm valor suficiente para se independentizar e autonomizar. Se para África o melhor é pensarmos em soluções africanas, porque razão essas mesmas soluções são adiadas?

E o Fidalgo volta amanhã!


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