Do atentado a Ankvab ao não-tentar europeu...

E eis que quando pensava que ia "sair" do Cáucaso apenas me desloquei dentro de mesmo. A notícia que hoje correu as edições internacionais dos grandes jornais aconteceu não a norte, no Cáucaso Russificado, mas a Sul, no Cáucaso independente.

O presidente da república separatista da Abkhazia, que Portugal não reconhece por defender o princípio da integridade territorial da Geórgia (princípio esse que nos esquecemos de defender no caso da Sérvia), foi alvo de um atentado (ou para ser mais exacto, de mais um atentado) mas sobreviveu ao mesmo. O atentado não podia vir num momento mais propício, quando se preparam as eleições parlamentares de 10 de Março.

Para a Federação da Rússia, que foi aliás o primeiro estado a reconhecer a independência da Abkhazia (como contraponto à independência do Kosovo, reconhecida pelos EUA), o atentado tem a marca de Saakashvili, Presidente da Geórgia, derrotada pelos Russos (com uma facilidade perturbadora) nessa Agosto de 2008. Os Georgianos não se apressaram a desmentir, como é hábito nestas situações.

Pelo contrário, as palavras de Saakashvili em visita ao Afeganistão de que "estariam a aprender muito enquanto o inimigo ocupava as suas terras", parecem confirmar as suspeitas russas. Neste jogo, meus senhores, prefiro ficar de fora... Mas não me parece de todo que os russos tivessem interesse em prejudicar a transição política da Abkhazia, já que foram estes os seus maiores promotores.

A Geórgia poderia beneficiar com a morte de Ankvab, já que a morte de Bagapash (histórico líder abkhaz e Presidente interino da Abkhazia independentizada) não surtiu o efeito que alguns analistas ocidentais e georgianos esperavam: esfriamento do devir nacionalista e independentista. Pelo contrário, com a morte de Bagapash a vontade de os abkhazes serem independentes apenas aumentou.

Querem ser independentes não apenas por direito, enquanto povo; mas também por vontade homenagear os esforços estóicos de Bagapash. A União Europeia, e mormente a França (que chamou a si a responsabilidade de liderar a resolução do conflito de 2008), vai agindo demasiado devagar; demasiado presa aos interesses norte-americanos e demasiado "cega" ao apelo de um povo que é histórica, cultural, social e políticamente distinto dos "georgianos".

Nada que me espante. Esta  é a mesma Europa que anda devagar na questão da Somalilândia; que empata na questão do Saara Ocidental; que não se decide na questão do Tibete; que parece desconhecer a Transnítria; que nunca ouviu falar da Circássia... Esta é a Europa que não consegue gerir-se a si mesma, porque razão poderia pensar que seria capaz de gerir os outros?

E o Fidalgo retira-se!

Comments