Como o meu Cáucaso Norte explica (em parte) a política de Moscovo...

Vai tenso o discurso político nas eleições Russas. Vladimir Putin terá optado por uma retórica militarista e com laivos anti-ocidentais. Nada de novo e nada de muito surpreendente. No pós-protestos pós-legislativas Putin, como eu disse num artigo publicado no Strategic Outlook, tinha como uma das opções possíveis uma aliança com os nacionalistas...

O problema é que os nacionalistas querem que Putin abandone o Cáucaso Norte, sendo aliás os responsáveis pela campanha "Parem de Alimentar/Subsidiar o Cáucaso", mas o candidato Presidencial não está disposto a ceder nesse ponto. E portanto, naturalmente, Putin socorreu-se do segundo trunfo ao seu dispor: inflamar as capacidades militares russas e mostrar-se anti-Ocidental sem o dizer directamente.

É interessante como o Cáucaso Norte desempenha um papel crucial nas eleições presidenciais da Federação da Rússia. É interessante perceber como uma pequena faixa de terra consegue monopolizar a vida política no Kremlin. Primeiro, em 2010, foi criado o Distrito Federal do Cáucaso Norte e agora é sobre essa mesma faixa de terra entre os Mares Negro e Cáspio que se constroem e destroem alianças políticas.

E o Cáucaso Norte, que durante anos foi espectador politicamente passivo (apesar de militarmente muito aguerrido), entrou na dança. Dokka Umarov, o homem mais procurado da Rússia, e Emir do auto-proclamado Emirato Caucasiano, pediu aos seus guerrilheiros para não atacarem mais os civis russos, recorrendo a um vídeo do youtube (curioso como alguém que vive nas florestas e montanhas adora comunicar via youtube; Umarov é quase um Robin dos Bosques High Tech dos guerrilheiros).

Sem violência contra os cidadãos russos, e dos demais grupos étnicos, os largos contingentes militares estacionados naquela zona e que sorvem importantes subvenções do erário público deixam de fazer tanto sentido. E para ilógico, pensará Putin, já bastam os protestos de rua e as arruadas que vão animando Moscovo e São Petersburgo.

Não estranho por isso a mais recente operação policial/militar lançada no Daguestão... A mesma que está longe de ser um sucesso, com 17 mortes (do lado das autoridades federais) em apenas 4 dias! E uma vez mais o Cáucaso Norte se torna num labirinto complicado, que exige uma navegação inteligente. Se Vladimir Putin mostrar "em casa" o fiasco da operação, mostrando a violência do contra-ataque de Umarov, consegue provar que o trabalho no Cáucaso Norte não está feito; mas levanta a questão: então o que se fez até agora?

Se Vladimir Putin tentar minimizar o impacto da operação junto da opinião pública, não coloca em causa o trabalho feito (pelo menos em teoria) na região; mas levanta-se a questão: o que resta fazer? Se Vladimir Putin não fizer nada então, muito seguramente, os grupos étnicos do Cáucaso Norte irão aumentar a pressão independentista e mais russos dirão: para que queremos mesmo a região menos desenvolvida da Rússia?

E por causa de todas estas questões, e por culpa dos já mencionados aliados nacionalistas, o que faz Putin: desvia as atenções e cria um novo foco de interesse mediático interno e também externo. Vladimir Putin apenas confirma que é um animal político altamente resiliente e que, sem grandes dúvidas, irá ganhar as Presidenciais de 2012 e ganhar acesso a perpetuar-se no poder... Assim, tal como o presidente da Síria que tem protegido.

E o Fidalgo nada mais tem a dizer... Por agora...


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