Voltemos ao Império Merkeliano!

Confesso que tenho acompanhado com interesse os desenvolvimentos da Crise das Dívidas Soberanas da Zona Euro, mesmo que nos últimos posts tenha-me debruçado sobre outras temáticas. Gosto de diversidade, de pluralidade e por isso tenho pulado de tema em tema. Mas, depois das notícias que foram saindo esta semana, tornou-se inevitável voltar a escrever sobre o Império Merkeliano.

Ainda há pouco tempo atrás a Itália era dada como certa, tal como a Espanha, que seriam as próximas a cair na teia complexa da ajuda financeira... E, de súbito, a Itália é dada como estando em zona segura! Confusos? Não vale a pena. É que na verdade falamos de Itálias diferentes, com interesses diferentes para Sua Baixeza (consta que a Chanceller alemã não é muito alta, pois longe de mim fazer juízos de carácter) Imperial D. Merkel I.

A Itália de Berlusconi era um perigo para a Zona Euro e uma certeza: o perigo de poder fazer colapsar o euro e a certeza da iminência da necessidade de ajuda externa. A Itália de Berlusconi era uma rival política, que não cedia aos apelos de Merkel e que, não raras vezes, caricaturava essa auto nomeada Imperatriz. A Itália de Monti tornou-se, em pouco tempo, zona segura. E a Itália de Monti tornou-se, em ainda menos tempo, em uma ovelhinha dócil no rebanho europeu. E Merkel já mostrou que quer ser a única pastora.

Mais interessante ainda, Monti quer agora que o duo (Merkel-Sarkozy) passe a ser um trio, onde Roma também possa ir cantando uma árias. Monti, todavia, terá que provar a Merkel que é fiel, pois para pajem já existe o Sarkozy... Mas para aio ainda há uma vaga e Monti não é o único na corrida. Cameron não quer, mas corre sérios riscos de ficar como o bobo da corte Merkeliana. A ver vamos...

A crise das dívidas soberanas vai transformando os políticos, substituídos (em boa hora!) pelos tecnocratas. Mas a mesma crise vai pervertendo a moralidade da política, quando uns se aproveitam de A para alcançar B, alegando que querem C. A crise de que tanto se fala tornou-se a mais fácil das desculpas para promover mudanças e mutações sem auscultação da sociedade civil... E basta olhar para a Hungria para perceber o quão perigoso isso pode ser!

E no meio de toda a efervescência palaciana, as agências de rating anunciaram hoje uma nova razia aos ratings. Anunciaram hoje um novo corte ao qual apenas escapam quatro países. Um corte insensato (e por isso coerente com os anteriores!) numa altura em que a Grécia tem as negociações do seu crédito paradas. Um corte ridículo que poderá acelerar o radicalismo contestatário.

Vai sendo tempo de se saber como pára o inquérito que a U.E. lançou para aferir da equidade da acção das agências de rating. Vai sendo tempo de a Europa acordar do transe em que parece mergulhada e pôr mãos à obra. Não consigo acreditar que a Europa dos Impérios se renda assim! Não consigo acreditar que a Europa da Liberdade e da Democracia se deixe engolir pela paranóia do rating e pela máquina Merkeliana. Não consigo nem quero acreditar...

E hoje fico-me por aqui...


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