Um erro chamado Kosovo!

O Kosovo tem nos investigadores um efeito similar ao clubismo nos adeptos do futebol. A questão do Kosovo, ou dilema Kosovar, divide paixões e inflama discussões que vão dançando ora entre argumentos ora entre sentimentos. O Kosovo é como a ópera: não dá para ficar indiferente. Ou se apoia, ou não se apoia a declaração unilateral de independência.

Sou contra a independência do Kosovo. Não que tenha uma qualquer agenda Sérvia, ou que seja contra o alegado direito à auto-determinação dos Kosovares. A mim parece-me que os ditos Kosovares, na verdade, mais não são do que Albaneses a viver na Sérvia que, por força dos seus líderes políticos e de aliados propositadamente mal informados, como os Estados Unidos da América, estão a tentar etnicizar o que não precisa ser etnicizado.

O Kosovo é um projecto que tresanda a cinismo e a prepotência de uma parte do Ocidente. E explico porquê! O Kosovo tem menos direito a ser independente do que a Abkhazia (o caso da Ossétia do Sul é mais complexo e por isso vou evitá-lo), mas tenta-se vender a ideia contrária. A Abkhazia existiu enquanto principado independente durante séculos, tendo apenas sido absorvida no Império Russo no século XVIII, em 1810, no reinado de Sefer Ali-Bey (que mais tarde cristianiza o seu nome para George) e mesmo assim mantendo a sua autonomia governativa sob regência de Mahmud Bey (ou Mikhail na versão russófona) até 1864, quando é absorvida pelas forças de Alexandre II.

O Kosovo foi, no máximo, uma província vassala do Império Otomano que depois foi incorporada no território Sérvio. A Abkhazia só se torna de facto parte integrante da Geórgia no final da URSS, mantendo sempre um estatuto de autonomia. E mesmo assim o mundo continua a achar que o Kosovo é que tem direito a ser independente e a Abkhazia deveria contentar-se em fazer parte de um país que não é o seu? Ora onde está a lógica nisto?

A independência da Abkhazia, disse Luís Amado, ex-Ministro dos Negócios Estrangeiros, constitui uma violação da integridade territorial da Geórgia. Muito bem, aceito o argumento. E logo me vem a pergunta: e a independência do Kosovo não é uma violação da integridade territorial da Sérvia? Porque não podem os Abkhazes, que são (para todos os efeitos) um aglomerado civilizacional dissimilar dos demais vizinhos, ter o seu estado, quando os Kosovares (que são basicamente Albaneses a viver na Sérvia) podem?

O Kosovo é tanto um erro que, pasmem-se algumas alminhas, após a sua independentização o seu Primeiro-Ministro foi acusado de tráfico de órgãos e, recentemente, o Kosovo pediu ao FMI para negociar a sua dívida pública. Pergunto-me: como pode um país com menos de cinco anos de independência ter uma dívida pública que mereça intervenção do FMI? O que correu mal? Onde estão os aliados que bateram palminhas no içar da bandeira do Kosovo?

O Kosovo, parece-me, está condenado a um fim que a Albânia conhece... A sua integração na Albânia, para já rejeitada, será a única forma de garantir a viabilidade de um estado que causa um estado de desconforto na Europa da União. O Kosovo, como a Bielorrússia, perceberá a tempo que o desejo de independência por vezes não devia passar de uma utopia. O Kosovo é um erro que o Ocidente promovido pela pressão diplomática dos EUA.

O Kosovo é uma inutilidade existente na Europa. Muito duro? Pronto, é uma imbecilidade norte-americana que adora construir pequenos protectorados que, normalmente, correm mal. O Afeganistão dos Talibans passou de aliado (nos anos 70) a inimigo; o Iraque de Saddam idem; o Egipto de Mubarak também... E fico-me por aqui!

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