Notas sobre a mediatização do segundo resgate luso...

Os jornais norte-americanos avançaram hoje com a notícia de que Portugal poderia vir a precisar de um segundo resgate. Apesar de a mesma me parecer uma possibilidade, tal como a saída do Euro é uma possibilidade, ou a queda da República é uma possibilidade, apetece-me ler a notícia de outra maneira, com outras lentes, e partilhar com quem se dá ao trabalho de me ler. Gabo o esforço do leitor!

É mais do que evidente que Portugal precisa de um segundo resgate financeiro para os media norte-americanos... A verdade é que a crise financeira europeia, também conhecida como Crise das Dívidas Soberanas (veremos que nome fica nos Anais da História), é um prato muito apetecível para os media de além-mar. A Crise das Dívidas Soberanas deu um novo fulgor aos medias dos EUA, especialmente aos jornais e por mediatizar a Europa está na ordem do dia.

A mesma crise provou ser um mecanismo escapista, na esteira do que defendia Herta Herzog, para a crise interna que os Estados Unidos da América vivem e que têm ignorado. A crise financeira na Europa mostra as fraquezas do ora aliado ora adversário civilizacional. A crise prova, em fraca medida na minha modesta opinião, que o capitalismo norte-americano triunfou... Na verdade a mediatização da crise prova apenas a facilidade com que a esfera de opinião pública se deixa ludibriar...

Segundo factor: mediatizar a crise europeia está percebido; mas porquê Portugal? A mim quer-me parecer que Portugal é o único factor de interesse disponível. A Itália de Monti tornou-se parca em escândalos e em momentos picarescos que Berlusconi nos servia antes do jantar. A França vai-se entretendo com a sua campanha eleitoral presidencial e, portanto, pouco pode oferecer para entreter nos EUA. A Espanha optou por um low-profile inteligente, juntando-se à Bélgica e, por exemplo, à discreta Áustria.

A Roménia, por razões de preconceito ideológico, não faz vender jornais. Um país pós-soviético em crise? Obviamente... A Moldova segue na mesma bitola. E a Hungria soma ao preconceito a dificuldade que seria explicar a questão Constitucional a um público despreparado. A Grécia encontra-se num impasse enfadonho... E portanto sobra Portugal como alvo de especulações e de cenários projectivos e incertos.

E, repito, não estou a dizer que desconfio de um segundo resgate apenas gostava de ver exposta com clareza a agenda mediática do país de Obama. Não estou a duvidar do conteúdo da notícia, mas não tenho peias de pôr em causa o sentido real da notícia. Estão os media norte-americanos apenas a informar? Ou, como me quer parecer, vão(-se) distraindo e sacudindo a água do capote?

E amanhã talvez escreva sobre o segundo resgate em si...

O amanhã o dirá!

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