Nem tanga, nem slip... Acabou a crise!

Acabou a crise!

Não; não foi o Ministro da Economia ou mesmo o Primeiro-Ministro quem anunciou o final da crise na qual estamos mergulhados desde há muito tempo. Começámos por descobrir, em 2004, que estávamos de "tanga" e Durão Barroso, corajoso, achou que a tanga de Bruxelas dava melhor com o seu tom de pele e "raspou-se" para fora do país. E nem foi preciso apelar à migração dos políticos! As coisas que uma pessoa se lembra.

Depois veio o Primeiro-Ministro com nome de filósofo e uma capacidade de oratória a lembrar os políticos atenienses. A tanga passou a ser um slip de moda, ecológico, resistente e tecnológico. O dinheiro apareceu e passámos da tanga às ofertas de computadores para que os mais novos descobrissem as novas tecnologias. Um pequeno prodígio esses meses (que anos foram poucos) em que tudo parecia ir em Alta Velocidade.

E depois veio o bicho papão das Dívidas Soberanas acompanhado pelas Moiras contemporâneas (as agências de rating) que tudo vêem e tudo conseguem prever. Portugal ficou de súbito sem slips e vendeu a tanga que estava esburacada, vá-se lá saber como. E agora no começo do Annus Horribilis, do ano de todas as transformações EU, euzinho, venho anunciar o fim da crise?

Obviamente que sim!

O Benfica ontem ganhou ao União de Leiria e voou, dizem os jornais, para o primeiro lugar da tabela. Num país que se move a jogos de futebol (é sintomático disso que dos 20 programas mais vistos de 2011, quinze sejam jogos de futebol) e no qual a legião de fãs do Benfica oblitera todos os outros clubes, o Benfica é o único clube com quatro dos seus jogos a figurarem no ranking dos dez programas mais vistos na televisão portuguesa em 2011, a vitória de ontem preconiza o fim da crise.

É conhecido de todos nós a extraordinária capacidade dos portugueses flutuarem numa bivalência comportamental que lembra os oxímoros literários. Se pela manhã somos os piores da Europa, quando não do mundo, que não sabemos nada, que não fazemos nada, que não prestamos para nada e que não solucionaremos nada... De tarde, com a cervejola na mão e o tremoço no canto da boca, assistimos a um jogo de futebol e pimba: "até os comemos!"

A vitória do Benfica de ontem galvanizará imensa gente que, nos dias que se seguem, andará de sorriso na rua e deixará de ouvir palavras como "Austeridade", "Crise" e "Sacrifício". E se as ouvirem dirão algo do género: "Os jogadores do Glorioso de facto têm espírito de sacrifício"; ou "É verdade, há uma crise de talento no futebol". A outra crise desaparecerá dos ouvidos dos "Benfiquenses" nos próximos dias.

E não me entendam mal. Acho fantástico que se consiga estar alegre, bem disposto, contente, ao invés do estado de desgraça de comiseração que costuma marcar o português. Acho louvável que haja gente que se sente bem, no ano em que querem que nos sintamos mal. Só pedia dosagem e bom-senso. Dosagem nos exageros... Não somos nem super-heróis, mas também não somos os pobrezinhos dos servos da gleba quinhentista.

Só podia que não fosse apenas o Benfica a chegar ao primeiro lugar. Aproveite-se a motivação e invista-se a energia positiva em criatividade, empreendedorismo, inovação e quiçá chegaremos todos ao primeiro lugar. Não faz sentido continuar a usar o sofá como mecanismo de terapia emocional e de catárse psicossocial, cruzando-se os braços a todos os outros esforços. O caminho faz-se andando e não falando, falando, falando, palrando, falando...

Quem vê futebol, e eu não faço parte do lote, não entende o que é importante? Para além do dinheiro, dos carros, dos maus cortes de cabelo, das roupas que nunca estarão na moda (entendida como bom gosto), das miúdas e das estroinices, o futebol é um desporto de equipa. Joga-se pelo esforço concertado de vários jogadores. Ora se todos pensarmos que podemos fazer mais um bocadinho para dar mais 3 pontos a Portugal será tudo muito mais fácil.

Fica a dica, em estilo de "sermão e missa cantada", do amigo Fidalgo!


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