Vai retrair as garras? Ou precisa de manicure Lady Merkel?

Começou uma das Cimeiras Europeias mais importantes para a zona Euro, dizem os media. Tenho que assumir que estou pouco entusiasmado e ainda menos expectante. Isto porque as anteriores Cimeiras foram anunciadas com todas esta pompa, mas todas se esboraram em resultados pálidos; em construções de palavras bonitas mas esvaziadas de poder efectivo; em mais um espasmo paralítico do grande herbívoro das 27 (quase com 28) cabeças.

A Cimeira Europeia começou antes, ao longo das últimas duas semanas, com as negociações para um novo resgate à Grécia em curso. O jogo do "avança" - "recua" prova a dificuldade em se construírem consensos, quando quem precisa quer ter voz e quem ajuda é surdo. O jogo do "avança" - "recua" provou a fúria alemã para ganhar capital político no espaço europeu.

A Cimeira Europeia começou antes da "magna reunião" dos vassalos de Merkel. Começou quando a Polónia e a República Checa ameaçaram vetar a proposta em discussão. Aposto que a Imperatriz Merkel não ficou nada contente por ver que os 26 (excluída que está a casinha da Isabel II) afinal serão apenas 24 ou menos... E isso é que não pode ser. A Alemanha de Merkel sabe que sozinha tem menos hipóteses de brilhar nos palcos extra-comunitários e por isso quer se vestir de honra e glória como timoneira do barco da União. Mas o barco da União parece seguir o rumo do Concordia.

Christine Lagarde, Dona do FMI, admitiu que a fórmula do FMI que preside está errada, quando este fim-de-semana assumiu em no Fórum Económico em Davos que a austeridade, tal como está desenhada, é suicidária. Finalmente minha senhora!!! Merkel, pelos vistos, não ouviu estas declarações... Mas quer-me parecer que Papademos ouviu e terá mesmo como ring tone as declarações de Lagarde...

Afinal a Grécia não aceitou, e bem, a proposta insana dos alemães. Abdicar da soberania económica? Não estamos a ir longe demais? É certo que o caminho para a crise das dívidas soberanas passará por uma maior integração política; ou por se assumir a falência do projecto da moeda única, dissociando-a do projecto da União Europeia que deveria ser sempre salvo.

A integração terá que existir, quando os líderes do espaço europeu forem empossados de poderes para esse efeito. Quando as populações decidirem que abdicam da soberania nacional, transferindo-a para as instituições europeias. Mas os actuais líderes não foram mandatados pelas sociedades civis correspondentes para abdicarem dessa soberania... E portanto aplaudo a ousadia da Grécia e aplaudo-a de pé!

Merkel, tenho para mim, não deve ter gostado nada de ver Papademos bater o pé, mas Merkel precisa de perceber que o mandato eleitoral que lhe deu o poder, que tanto gosta de usar, restringe-se às fronteiras da Alemanha. Em todo o restante espaço europeu, goste ou não goste, terá sempre que negociar com os líderes dos estados em causa. Ou isso, ou Merkel assume a sua faceta imperialista...

E fico-me por aqui!


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