Hungarizemos a Europa!

Estava a beber o meu café da manhã, e bem que me soube depois de uma noite acompanhado pelas "Sónias", como diz uma das minhas irmãs mais novas, quando li sobre o arrepio que a Hungria deu à Europa da União. Não se previa uma manifestação com a dimensão, o entusiasmo e a lucidez registadas contra a Nova Constituição que, entre outras coisas, faz temer um regresso aos tempos da cortina de ferro. Isto quando a Rússia de Putin ainda se recompõe do recente "percalço" eleitoral.

A sociedade civil na Hungria demonstrou o caminho às demais sociedades civis europeias. Em nome da Economia podemos e devemos fazer muita coisa, mas não devemos ameaçar liberdades e direitos sociais conquistados com muito esforço. Em nome da Economia podemos até repensar os "direitos adquiridos" (falácia que os mais velhos sindicalistas europeus usam e abusam, para não se mexer num sistema que tem de ser reconstruído), mas isso não significa que se ameacem outros direitos sociais.

Mas nem só de Hungria se fez a Europa de hoje... E a Grécia, a primeira a tombar perante o ataque acirrado dos agentes económicos de Wall Street & Companhia, também saltou para os escaparates. Com uma notícia que é cada vez menos notícia: a saída do Euro será iminente se o novo resgate não for aprovado. Ameaçar com a "saída" da zona Euro é uma arma ambígua, pois pode acontecer que um dia Papademos se veja num contexto em que lhe digam: então saiam e, se faz favor, não batam com a porta!

Tenho a consciência que a saída do Euro parece a solução mágica, nas cabeças de alguns génios iluminados, mas aconselharia prudência onde vejo impaciência. O Euro, com todas as suas maleitas, também provou ser capaz de muitas virtudes e não devemos imputar a uma moeda, que no fundo é um projecto comunitário com grande potencial, as culpas do actual cenário europeu... Afinal a História diz-nos que a Europa sempre adorou gastar mais do que tinha! E sempre se achou à beira do abismo económico...

Talvez nos tenham ficado genes da Roma Imperial, da grandeza dourada desse Império, que ciclicamente fomos tentando refazer (lembro-me assim de súbito dos intentos do Sacro Império Romano-Germânico, do Império Francês, do Império Russo e da Alemanha Nazi). Os Impérios não voltam, pelo menos no curto-prazo, e o abismo está agora presente no mais perigoso dos lugares: na psique da esfera pública. E vejo muitas "Grécias" a jogarem cartadas de adiamento e poucas "Hungrias" a virem para a rua...

Talvez falte aos Gregos a coragem para tomar medidas certas, ao invés de continuar no jogo do "sai-não sai do euro". Talvez falte aos Gregos a coragem para serem mais Húngaros, para serem pró-activos, reivindicativos e não maquinados por sindicatos ossificados e inflamados em violência bárbara e desnecessária. Talvez falte aos Gregos assumirem a falência da sua República e repensarem-se social, cultural, política, económica e comunitariamente.

E talvez, quiçá de certeza, tudo isso não falte apenas aos Gregos... Não é lusa gente?

E o Fidalgo continuará atento!

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