A caminho do "Reino da Estabilidade Perene"

Deixe-me o leitor continuar a escrever sobre a notícia que vai ocupando a cabeça de muita gente: a eventualidade um segundo resgate a Portugal. E depois de me ter alongado sobre a "utilidade" da notícia para certos media, apetece-me agora escrever sobre o conteúdo da notícia. E como me apetece, e sou feito de pequenos caprichos, aqui vai...

A notícia da provável necessidade de um segundo pacote de ajuda externa será, para uns, mais uma confirmação do que uma surpresa. Obviamente que o país iria precisar de mais ajuda, se a Grécia vai já na terceira ronda negocial. A mim parece-me, contudo, que uma provável necessidade de um segundo pacote de ajuda deve ser entendido numa perspectiva diferente. Permita-me o leitor uma pequena metáfora!

Imagine que dá uma festa num destino pouco conhecido, chamemos-lhe Reino da Estabilidade Perene, e que convida 27 pessoas para a sua festa... Não 27 parece-me pouco, convida 50 pessoas para a sua festa. Por ser pouco conhecido, muitos são os convidados que se perdem no caminho e que vão dar a outros destinos como ao Principado do Gaste o Que Puder ou ao Ducado dos Mãos Largas, ou ainda ao Marquesado do Crédito. Poucos são aliás os convidados que chegam à festa e você, com razão e sem presentes, zanga-se.

Imagine agora que dá uma segunda festa no mesmo destino, mas desta vez desenha um mapa para que ninguém se perca. Para que corra bem manda editar o mapa na Troika Edições Lda. e distribui por todos os convidados que se perderam na última festa. Ao final de algumas horas percebe, mesmo assim, que alguns dos convidados continuam a não encontrar caminho... E se é verdade que alguns não sabem ler mapas e vêem-se gregos para lá chegar; outros seguem as instruções à risca mas perdem-se na mesma. De quem é a culpa?

É mais ou menos assim que vejo a necessidade de um segundo pacote de resgate para Portugal. Se o Governador do Banco de Portugal diz que estamos a cumprir de modo exemplar o acordo e, mesmo assim, o mesmo pode ser insuficiente então a culpa de não chegar ao destino não é apenas nossa. Agora pergunto-me: se não chego a A por culpa de quem me desenhou o roteiro que culpa tenho? Se me perco pelo caminho por incompetência de quem me convida, porque sou eu a sofrer as consequências?

Se precisarmos de um segundo pacote de ajuda, meus senhores tecnocratas do FMI e da UE, provam apenas a vossa incapacidade e a vossa ignorância... E, tenho a dizer, não devíamos ter que pagar pela ignorância dos outros...

E o Fidalgo retira-se...


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