A um Parlamento (para meu lamento) Europeu...

Tive que me rir quando li hoje, em vários meios de comunicação social, que o Parlamento Europeu defende a repetição das eleições legislativas na Rússia. Não querendo, para já, comentar a natureza da decisão, acho o seu timing revelador de um cinismo político extraordinário e, pior ainda, revelador de um "andar a reboque" dos interesses de terceiros... Porque tenho poucas dúvidas do dedo norte-americano nesta tomada de posição.

O mesmo Parlamento Europeu demorou tempo, muito tempo, a intervir na guerra Russo-Georgiana de 2008, por saber da complexidade da questão e da culpabilidade georgiana (e não desculpo, com isto, a actuação russa). O mesmo Parlamento Europeu demorou ainda mais tempo a reagir, apenas a reagir, ao que acontecia na Costa do Marfim. O mesmo Parlamento Europeu que não soube reagir, no seu tempo certo, aos tumultos na Bielorrússia.

Poucos comentadores querem dizê-lo, mas a verdade é que a Guerra Fria, que se presumia acabada, está numa fase Morna. A Rússia apontou o dedo aos EUA como "instigadores" das manifestações que varreram as maiores cidades da Federação de Putin. Os EUA voltam a acusar a Rússia de falta de democracia... O mais incrível é que o ano passado, em Lisboa, em Novembro, estes dois países assinavam um "Acordo Histórico" de cooperação NATO - Rússia!

E agora?

Depois dos flashes, das manchetes, dos abraços, dos acepipes, resta muito pouco! O "Acordo Histórico" está congelado, registando progressos tímidos. A Rússia, no pós-acordo, acelerou a transformação das suas Forças Armadas, com uma redução do número de efectivos e uma profissionalização das suas tropas. Do lado dos EUA a política de defesa atravessa uma fase confusa... E isto para ser simpático...

Os EUA falharam no Iraque (onde falar de democracia está entre o idealismo e a fantasia, pendendo mais para a segunda), sabem que estão a falhar no Afeganistão (ainda recentemente Hamid Karzai acusou as forças estrangeiras, as norte-americanas em específico, de serem as responsáveis maiores pela corrupção que grassa no país), sabem que a intervenção na Líbia foi tardia e desastrosa (já que agora todas as facções e grupos tribais estão armados até aos dentes)...

E no meio de todo o marasmo em que mergulhou o Líder do Ocidente, que precisa arrumar a casa onde os Occupy se vão tornando mais interventivos e mais resilientes, vai-se entretendo o resto do mundo com uma pseudo-vigilância  à democracia na Rússia??? É essa mesmo a prioridade dos EUA e, por arrasto, do Parlamento Europeu? Não teremos uma Síria ou uma Somália com que nos preocupar? Não teremos um Congo ou umas Filipinas onde a acção, a condenação, a monitorização são mais relevantes?

O Parlamento Europeu, na minha singela opinião, devia preocupar-se mais em olhar para dentro; em reformar-se, tornar-se mais pro-activo, mais próximo dos cidadãos europeus e menos enclausurado na sua cidadela de vidro e metal. O Parlamento Europeu devia condenar, isso sim, a actuação das agências de rating! O Parlamento Europeu devia "parlamentar" a vida europeu e não emitir comunicados para-lamentar sobre a vida internacional...

Mas se calhar sou eu, o que é altamente provável, quem está a exigir demais, de um Parlamento obeso, quase paralítico e tendencialmente autista, que só pode fazer de menos...


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