Se a Decepção fosse um país seria europeia!

Estou surpreso com o que acabo de ler... Para não dizer nada pior... Uma pessoa passa o dia inteiro de volta da tese, tentando conceptualizar ontologicamente o espaço pós-soviético, e quando se liga à Internet para ler umas notícias o que vê? Mais um murro no estômago frágil do projecto europeu. Altura de fazer a pergunta: queremos ou não queremos esta Europa? (Só para alertar que não tenciono responder a esta pergunta... É mais um brain teaser do que uma introdução para uma resposta)

Fico espantado quando vejo o Banco Central Europeu a excluir-se de ter uma atitude mais interventiva no solucionamento da crise das dívidas soberanas na Europa. É extraordinária a falta de coerência dos Senhores do Euro, que tanta clamam aos líderes políticos por consensos alargados, por planos arrojados, por medidas austeras, por soluções criativas e quando chega a vez de se dar um passo em frente, mostrar-se que o caminho faz-se caminhando, qual a reacção? Decidir que não se dá passo nenhum!

E eu que até estava contente com o BCE, quando este se decidiu (finalmente) a levantar um inquérito ao comportamento das agências de rating. Não que seja suspeito um grupo de agências de rating, sediadas em Nova Iorque, estarem constantemente a baixar "as notas" de países do espaço euro (a moeda que desde que nasceu provou ser cambialmente mais forte do que o dólar), bem como a países que possam vir a entrar no espaço euro (se este sobreviver claro!).

Quem poderia duvidar da ética de quem comanda as agências de rating? Ninguém acredita que tenham uma agenda política... É tudo boa gente, certo? Adiante! O BCE marca pontos com a iniciativa do inquérito, para logo a seguir voltar à "zombie land" onde se passeia meio-morto, meio-vivo, marcando passo e decidindo como adiar decisões. O BCE parece-me não quer intervir mais, pois tem medo de irritar a autocrata Merkel, que neste dias dá por si a imaginar-se uma descendente de Bonaparte!

O BCE recua perante o eixo franco-germânico como Durão Barroso fez, quando deixou cair as eurobonds que tanto defendia. Não que eu tenha entendido o funcionamento das eurobonds (acho que ficámos todos praticamente só a saber o nome!), mas o facto de irritarem a D. Merkel fazia-me tão feliz. E puf! lá se vai a minha alegria. No meio de tanta insanidade e, para meu total espanto, tenho que admitir que Sarkozy tem razão quando adverte para os riscos da desintegração europeia.

E eu que adoro o projecto europeu, admiro tudo o que conseguimos com ele e as suas múltiplas virtudes (e não estou a ser irónico, para sermos claros) tenho duas coisas a dizer sobre isso: 1.) o discurso catastrofista é uma recorrente no linguajar do politiquês, mas não nos leva a lado nenhum... Se não tivéssemos a Constituição a UE morreria... Não tivemos. Não morreu! Se não ajudássemos os USA (que agora nos mordem na mão) com a sua crise do sub-prime a UE implodiria. Ajudámos. Muito está ainda por resolver. A Europa não implodiu. E a lista continua...

2.) Usar ameaças de desintegração para dissuadir a oposição (que se sabe ser, pelo menos, britânica, finlandesa e irlandesa) é de tão baixo nível, que se torna complicado comentar. Não devemos temer as ideias discordantes das nossas, meu caro pajem gaulês. Devemos sim ouvir essas ideias, tentar perceber o prisma funcional dessas ideias e no final chegar a consensos e a compromissos; é isso que se faz numa verdadeira comunidade... Ou a vulgarizada expressão Comunidade Europeia é mais um floreado literário, do que uma realidade palpável?

E por aqui me fico hoje... O Fidalgo continuará atento...

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