"Fides": A palavra esquecida por todos...

Quanto mais escrevo sobre Economia, apesar da minha (já) assumida vasta ignorância, mais contente fico por estudar o Cáucaso Norte. Antes do que interessa, eu escrevendo sobre um assunto do qual sou um leigo com curiosidade, uma pequena pausa: acho extraordinária a onda de "apoio" que a minha investigação de Doutoramento sobre o Cáucaso Norte tem gerado.

Depois de apresentar a minha comunicação no Congresso Internacional Interdisciplinar em Cracóvia, um investigador alemão sénior veio ter comigo e disse-me: "Keep up your work! It is of the highest importance to Europe to have someone like you, studying the North Caucasus". Soma-se a isso o facto do Cônsul de França na Polónia, que estava na audiência, ter me interpelado para me dar o cartão de contactos dele e para pedir que lhe enviasse a apresentação. E com isto termino o auto-elogio (nada como alimentar o "esfomeado" do meu ego) e volto ao assunto...

Antes do avião, que me levaria de Cracóvia a Frankfurt, levantar voo ouvi a palavra confiança. E logo me lembrei do que aprendi no 11.º ano, em História. O sistema monetário foi criado na base da confiança e, vá-se lá saber como, encontra-se pervertido numa espiral de desconfiança cancerosa e infecciosa. Primeiro é importante lembrar, ou informar, que sistema monetário também se pode apelidar de sistema fiduciário, com origem na palavra latina fides: confiança!

Quando criado, o sistema de "confiança no valor de algo sem valor" (notas de dívida e notas de crédito) permitiu aos comerciantes europeus aumentarem os seus negócios e facilitarem as suas deslocações. Era tudo menos prático carregar com as sacas de ouro para todo o lado. Com a evolução social, o valor do dinheiro a circular em cada Estado foi sendo desvinculado (parcialmente) da quantidade de ouro em reserva. A confiança passava a ter um papel primordial no sistema monetário.

E de súbito ouvimos falar em "os mercados desconfiam da capacidade de os Estados pagarem dívidas". Onde perdemos a capacidade de confiar? Onde nasceu este surto pandémico, porque há pouco tempo atrás poucos de nós conheciam a palavra "rating" e menos ainda sabiam que existiam "mercados especulativos". Desde quando fazemos dinheiro apostando na capacidade ou não de outros pagarem dívidas?

Dinheiro ganho pela desconfiança que, obviamente, destrói um sistema, cujo alicerce central era a confiança de reembolso! Juro que não entendo... Mais estranho é o facto de acharmos "normal" cobrar mais, a quem não consegue pagar menos!! Dizem que "o sistema é assim"? Pois assuma-se a perversidade do sistema, pois soa a ilógico, a graçola sem graça, que se cobre 100 a quem se presume (porque certezas ninguém as tem) que não pagará 10...

E pensando em tudo isto (deprimido que fico) vou saindo de mansinho...


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