E agora? Somos 27? Ou somos 26 + 1?

E a Cimeira Europeia acabou e a grande manchete, que correu mundo, foi o facto do Reino Unido ter ficado de fora do pacto alcançado. Foi o facto de o Reino Unido ter bloqueado uma alteração do Tratado de Lisboa, que crie esse mecanismo de sanções automáticas a quem ultrapassar não conseguir respeitar as metas estabelecidas para o endividamento público.

Na verdade, ontem à noite, no final da Cimeira, eram dois os países a bloquear a revisão do Tratado de Lisboa (que basicamente lança as bases para um federalismo económico europeu). A Hungria (que está em negociações para um resgate com o FMI) só hoje de manhã alterou a sua posição, deixando as terras de Sua Majestade Isabel II num isolamento que, quer-me parecer, irá marcar a vida política europeia nos próximos tempos.

A posição do Reino Unido revela, em primeiro lugar, uma extraordinária incapacidade negocial de Cameron e uma prepotência intelectual, que não são novidade de há uns meses para cá. O Reino Unido, em boa verdade, nunca foi um país-membro da União Europeia, pelo menos não como os demais. O perverso mecanismo de switch-off, faz com que os súbditos da Isabelinha oram sejam da União, ora sejam apenas do Reino... E os políticos britânicos pulam assim desde sempre, dependendo dos interesses na sua agenda.

A posição do Reino Unido revela, contudo, uma vontade de defender a soberania nacional, que deve ser motivo de reflexão (Qual o mal de se querer preservar o poder de decisão de um país?). Demonstra uma necessidade de se aprofundarem debates sobre o projecto Federal Europeu e desvela algo interessante, que é tempo de se começarem a fazer escolhas: o continente optou por um caminho de reformas... A ilha optou por outro e isso, meus caros, terá as suas consequências.

No meio de tudo isto, pode não parecer, mas fico um bocadinho contente com a teimosia do Reino Unido. A verdade é que não concordo que se altere o Tratado de Lisboa, pelo menos não sem uma consulta popular. Normalmente tenho medo de referendos; seja pelo modo simplista e pobre como se desenham as campanhas, seja pela histórica não-participação dos cidadãos. Mas qualquer alteração ao Tratado de Lisboa deverá sempre ser sujeita ao escrutínio popular, pois nenhum governo foi mandatado para tal no seu programa eleitoral.

É notório o pânico europeu de cada vez que se diz o lexema Referendo, mas quer-me parecer que uma elite política (e burocrática) que teme os seus cidadãos tem pouco de democrática. Não que as maiorias tenham sempre razão, mas enquanto não criarmos um sistema melhor terão que ser essas maiorias a dar o seu parecer nos grandes assuntos da vida Comunitária Europeia.

Uma nota apenas naquilo que foi acordado: fico a pensar se o mecanismo de sanções automáticas irá mesmo funcionar para todos, de igual modo. Irá uma França, que inúmeras vezes desrespeitou o Pacto de Estabilidade, ser sancionada com a mesma celeridade com que se castigará uma Grécia ou uma Hungria? Ou iremos ter uma Europa a três velocidades? Os intocáveis, os castigáveis e o Reino Unido?

Confesso-me curioso pelos próximos capítulos da euronovela...

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