Da importância de humanizar a política!

Sabe quem me conhece a importância que dou aos símbolos e o modo, por vezes complexo, como gosto de descodificar as várias "camadas" de sentido que compõem os férteis e interdependentes campos do Simbólico. É por isso natural que eu tenha achado interessante, digna de leitura mais atenta, a reacção da Ministra do Trabalho italiana ao anúncio das medidas de austeridade, que serão postas em marcha em Itália no próximo ano.

Elsa Fornera, a referida Ministra, não aguentou a pressão dos últimos dias e uma plêiade de sentimentos poderosos, contraditórios (alguns deles verdadeiros oxímoros), e deixou que as lágrimas lhe assaltassem o rosto e roubassem a voz. O vídeo de uma Ministra do Trabalho fragilizada, humanizada, que tentava anunciar aos seus concidadãos a dureza das medidas, correu as redacções de todo o mundo, como fogo em palha seca.

A Ministra do Trabalho desceu do Olimpo em que, por vezes, se refugiam os políticos e tornou-se "gente", para os italianos passou a ser uma de "nós"; não tanto pelas lágrimas, mas pela sua sinceridade, pela sua honestidade emocional, pela sua capacidade de perceber que o animal político deve, por vezes, recuar e dar lugar ao rosto humano. Seria tão mais simples se todos percebessem isso.

E de Itália veio mais um sinal simbólico, mas altamente necessário. Mario Monti, o novo Primeiro-Ministro, renunciou ao seu vencimento pelas funções que agora desempenha. Não será essa medida a que salvará Itália, mas é mais fácil pedir que se faça luz no bairro, quando iluminámos a nossa rua primeiro. E de súbito me relembrei do mote da polícia norte-americana "Lead by example"!

Há que admitir que este novo Executivo italiano tem uma tarefa ingrata. Vejo-os como uma espécie de empregada doméstica que sozinha terá de limpar o grande salão, depois do festival Berlusconiano que foi governando a Itália nos últimos anos. Depois de um governo que comandava um estado, como quem comandava um recreio para crescidos.

E se Sílvio Berlusconi fez a porcaria, Mário Monti terá agora que a limpar (e polir o chão do salão com cera da boa!), para merecer a confiança dos mercados hipertensos e para não arriscar que a Itália seja "aportuguesada" ou pior... se transforme na segunda parte da tragédia grega! Monti parece-me pouco preocupado em agradar Merkel, que anda a cozinhar das suas com o seu pajem francês, e só por isso gosto ainda mais dele.

Por cá o Presidente da República anunciou que o Natal por Belém vai ser singelo. Sem prendas para os filhos dos funcionários do palácio presidencial (como se isso fosse necessário!) e usando cartões de Natal, que sobejaram dos anos anteriores. Espero que a medida seja extensível também aos Ministérios, onde sei gastarem-se fortunas por esta altura. Que impere o bom senso!

E apesar do espírito de poupadinho e arrumadinho que o Sr. Presidente da República quis passar, não sei o que me deu mais pena, se o provincianismo das medidas se o bacoco anúncio público das mesmas. Deixe-me que lhe diga que fica a saber a pouco Sr. Presidente...

E por aqui me fico! O Fidalgo regressa amanhã...

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