"Panem et circenses" à la portuguesa...

Acaba de sair para a imprensa a notícia onde se esclarece, por fim, quais os dois feriados civis que serão suprimidos do calendário e confesso a minha estupefacção, para não dizer desilusão, ou mesmo fúria. Contava com imensos malabarismos, regidos por uma linha que separa o racional do ilógico, no corte dos feriados civis. Tenho perfeito noção que esta era, em qualquer cenário, uma escolha que se previa difícil; todavia, num período complicado como este, imperava que a escolha não fosse somente feita, mas que fosse feita com coragem. Optou-se, vá-se lá saber porquê, por uma escolha que roça o patético!!!

Pois então acabemos com o 1 de Dezembro e com o 5 de Outubro. O que importa celebrar a Restauração da Independência Portuguesa, num país cada vez mais amarrado a estranhas correntes euro-idiossincráticas e proto-mundistas? De que importa ter restaurado a independência, se agora temos pouco espaço para uma verdadeira autonomia política? Nesta perspectiva até que faz sentido... E cai o 1 de Dezembro!!!

E eu, monárquico confesso, até cederia o 1 de Dezembro, para salvar o 5 de Outubro! Contra-senso (pensarão, neste momento, alguns)? Nem por isso! O 5 de Outubro, antes de assinalar o começo da Era Republicana, já marcava o começo de Portugal como entidade política soberana, aquando da assinatura do Tratado de Zamora em 1143. Vai longínquo o tempo, mas nem por isso deverá ser esquecido...

Mais ainda... Qual o sentido de se terem gastos 10 milhões de euros com a celebração do Centenário da República (e nem falo da qualidade débil de algumas das iniciativas apoiadas pelo Estado), se no ano seguinte a mesma efeméride é varrida do calendário??? E, meus senhores, nem se atrevam a ensaiar a velhinha desculpa do: "mas não era o nosso governo..." Quando se conquista o poder, herdam-se responsabilidades! Ou esqueceram-se disso, para os lados de São Bento?

E enquanto estes marcos identitários, verdadeiros pesos pesados (permitam-me o trocadilho fácil), vão sair do calendário o efémero, na melhor das hipóteses, o Carnaval (pasmem-se as alminhas lusitanas) consegue sobreviver! Ora peço que me expliquem o que é mais importante?!? Um feriado que assinala apenas a folia (e que apesar de associado a festividades pagãs, não é comemorado por essas mesmas festividades), ou um feriado que nos relembra quem somos enquanto povo!

Bem sei que se ensina nas aulas de História que os políticos Romanos (note-se os da Roma Imperial Antiga, e não os da Itália Berlusconiana do presente) tinham como uma das suas máximas, na governação política do Império, o panem et circenses (pão e circo); mas parece-me que estamos a levar tudo muito à letra. Até porque, arrisco-me a dizer que a expressão, em Portugal, em 2012, corre sérios riscos de morrer coxa... Ou pelo menos entrar em coma! Porque circo vai haver (e muito!), a julgar pela proposta do governo, mas pão isso ninguém sabe...

Só espero que o bom senso impere e que o Carnaval tome o lugar do 5 de Outubro... Idealmente, o 1 de Dezembro seria resgatado, nesta troca de prisioneiros da guerrilha euro-financeira, entregando-se o 1 de Maio às feras. Se é dia do Trabalhador, pois que se trabalhe! Se o ideal não for possível, que os Sindicatos vão ficar de cabelinhos em pé, ao menos que o racional impere e deixemos-nos de Carnavais!


O Fidalgo aguarda novos desenvolvimentos... Com algum receio...

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