E hoje nada mais apropriado do que falar de greves...

Fico sempre com um sentimento de desilusão com as greves portuguesas, sou sincero! Sinto uma desilusão parecida com a que Eça de Queiroz expressa, em "Os Maias", no episódio da Corrida de Cavalos, perante a pequenez e o amadorismo do evento todo feito ao improviso em palanques de madeira. A mesma tristeza que Almeida Garrett imprime em "As Viagens da Minha Terra" quando descobre que o pinhal de Leiria é menos do que idealizara; menos do que suficiente para justificar os personagens que recortara no caminho...

É isso que sinto com as greves em Portugal. Feitas de modo tão paupérrimo que fico sem saber se rio do amadorismo, se choro da sua precaridade mental! Uma greve, entenda-se, deve ser encarada como uma espécie de arma ATÓMICA, no decurso de um processo de negociação política. A greve, entendida como o último dos recursos, não deveria ser instrumento recorrente, pois que a sua repetição leva ao esgotamento da sua força.

A greve não pode ser UM instrumento de luta dos trabalhadores, mas deveria ser O instrumento de luta dos trabalhadores. A greve, assim entendida, deveria ser rara, impactante, organizada e com planeamento sério. E isso, para minha tristeza, está longe de espelhar o que se passa pelo cantinho lusitano. E Greve, tenho que dizer, não é o mesmo que Gazeta. E neste ponto, os nossos grevistas estão mais para gazeteiros do que para outra coisa qualquer.

A Arte de faltar ao trabalho é gazeta. Greve é outra coisa, e não vale a pena fingir que não se sabia isso. Na sua essência greve é ir para o local de trabalho e não exercer as funções previstas. Greve não é dormir mais duas horas, ver repetições de um qualquer jogo de futebol, ou ir para um centro comercial e dizer três ou quatro parangonices. Tudo isto é gazeta!

O grevista apresenta-se no local de trabalho, mas não trabalha porque está em greve. O grevista reivindica com inteligência e com crença no que faz; ao invés de se deixar conduzir por um pastor politicamente astuto. E acrescento ainda... A greve, apesar de nascer com os sindicatos, que nasceram politizados, devia já ter sido desvinculada do seu cunho politizante e populista. Chama-se a isso evolução; progresso. A greve deve mostrar contestação, indignação, mas não se deve amarrar a uma mensagem política pré-feita e requentada!

A greve quando entendida enquanto arma nuclear, feita de modo inteligente, consenciente e com um cunho de acção política mas não politizada terá o meu apoio. Esta gazetice aparolada, sem qualquer rastilho de lógica e de real inteligência está longe de ser uma greve. E portanto não, não consigo apoiar esta espécie de coisa que chamam de greve...

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