E eu que hoje nem ia escrever no blog vejo-me compelido a ter que o fazer... Li no jornal Público, mas certamente estará em outros jornais, que a Conferência Episcopal Portugal (CEP) está disposta a abdicar de dois feriados religiosos, se o Estado fizer o mesmo com dois feriados civis!

Abdicar de feriados religiosos não me parece mal de todo, aliás não eliminaria dois mas, pelo menos, três: o Dia do Corpo de Deus, o qual a maioria de nós nem sequer sabe porque razão é feriado (muito embora discorde que a ignorância seja factor para eliminar feriados); 15 de Agosto (festa de Nossa Senhora da Assunção) e o 8 de Dezembro (Imaculada Conceição e, em tempos idos, Dia da Mãe).

Se temos o 1 de Novembro para comemorar todos os Santos, não vejo a necessidade de andarmos a destacar efemérides das santidades católicas... Até aqui nada de extraordinário! O que me causou espanto, estranheza e alguma perplexidade foi o facto de a CEP dizer que elimina dois feriados, se o Estado fizer o mesmo!!!

Não quero cair em populismos barrocos, cheios de metáforas tão bem construídas quanto vazias, mas desde quando um estado semi-laico (porque não nos podemos esquecer da Concordata) se tem que curvar ao Vaticano? A Era da Respublica Christiana já acabou, meus caros senhores de vermelho e púrpura...

Os Acordos devem ser honrados, ou renegociados, nisso estamos de acordo. Mas também me parece razoável asseverar, que é pouco sagaz querer por em pé de igualdade o esquecido 15 de Agosto, com o necessário 1 de Dezembro (para os mais esquecidos, Dia da Restauração da Independência). Aliás, excluindo o Carnaval, acho que não se devia sequer mexer nos feriados civis, mesmo o 10 de Junho (normalmente dado como um exemplo de feriado civil que poderia desaparecer) não deve ser removido, num país que se quer orgulhoso da sua portugalidade e liderando o espaço da lusofonia (seja lá o que isso for).

O 25 de Abril, li algures, poderia passar a ser móvel, porque, diziam mentes iluminadas, representa um conceito de liberdade! Seria o mesmo que dizer aos Russos que o 4 de Novembro (recém-instituído Dia da Unidade Nacional) passaria a ser móvel, já que assinala um evento que, na verdade, ninguém pode precisar ao certo (o Dia da Unidade Nacional está associado à vitória sobre o exército polaco, em 1612, e ao fim da Era dos Problemas, com a coroação de Mikhail Romanov).

Parece-me óbvio que não se irá ponderar uma anulação do 1 de Dezembro (que marca a reconquista da independência nacional em 1640; nesse primeiro dia de Dezembro a acção dos Conjurados levaria a um término da mais pequena das quatro dinastias: Dinastia Filipina), nem mesmo do 5 de Outubro (que quotidianamente simboliza, infelizmente, apenas a Instauração da República; pois que nos fomos esquecendo da "oficialização" do nascimento de Portugal com a Assinatura do Tratado de Zamora, no dia 5 de Outubro de 1143).

Eu até acho, mas os Tempos não estarão para isso, que nos falta um feriado a 20 de Maio. Troco, de bom grado, a inutilidade que (na minha perspectiva!) é a celebração do Dia do Trabalhador com um dia de gazetice e preguiça, por aquilo que seria o Dia do Império Português, aproveitando o dia 20 de Maio de 1498 (chegada à Índia da armada lusitana, comandada por Vasco da Gama) como marco desse momento importante, no qual não devemos ficar presos em memórias passadistas; mas do qual não nos devemos esquecer, pelo muito que nos ensina!

Mais haveria para escrever... Mas quer-me parecer que o Fidalgo ainda voltará a escrever sobre este assunto...

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