"Sai uma previsão fresquinha para a mesa do canto!"

E a Comissão Europeia lá fez aquilo que mais gosta, e por vezes fico com a impressão que aquilo que apenas sabe, fazer: libertar previsões!

Uma vez mais Portugal aparece como o país da Zona Euro que vai sofrer a maior contracção económica. Um pequeno aviso é favor não confundir, por infortúnio ou por propositada, a Zona Euro com a União Europeia, como muito boa gente adora fazer!!! Na negra previsão da Comissão Europeia nada de novo, pensarão muitos portugueses, até porque adoramos o fatalismo do nosso fado de pobrezinhos e vítimas de tudo e todos (e não falo nem de arbitragens, nem de futebóis)!

E é verdade, nada de novo. Se a memória não me atraiçoa, o que poderá acontecer, estamos há dois anos seguidos a ser pincelados com as mais negras cores da União Europeia... E há dois anos que as previsões acabam por não se cumprir em pleno. Obviamente que, algum dia, a Comissão Europeia irá acertar nas suas previsões, mas pedia-se um pouco de maior rigor aos tecnocratas europeus!

Lendo o boletim informativo da Comissão Europeia, vou pensando, de mim para mim, para que servirão tantas previsões para além de empregarem um Carnaval de tecnocratas e de confirmarem a verdadeira histeria europeia para com os números? Numa Europa herbívora, que rumina lentamente em vez de decidir, e que placidamente se passeia nos campos do "Espera que já resolvo", faz-me alguma espécie ver tanta previsão e tanto falhanço, nessas mesmas previsões!

Acrescento ainda, e faço-o não apenas como cidadão global mas também como Secretário Executivo do Observatório de Segurança Humana, que a prisão dos números é em si parte do problema europeu. Os números, e as previsões, têm a sua validade enquanto ferramenta de apoio à decisão política, mas é preciso que haja decisão política e, muito mais importante, é vital que não nos esqueçamos que falamos de pessoas (não senhor deputado, não são apenas eleitores, são pessoas... e vivem e tudo!).

Os números que tanto ocupam, e tanto embaraçam, a tecnocracia do Euro-herbívoro obeso, encerram na sua frieza os rostos e as estórias de pessoas que vêem diminuídas quer a sua liberdade do medo (que gera insegurança); quer a sua liberdade do querer (que gera vulnerabilidades). Só um novo quadro mental re-centrado no ser humano, entendido não só enquanto parte do todo social mas fundamentalmente enquanto ser isolado e autónomo, poderá encontrar soluções viáveis, de desenvolvimento e crescimento sustentável.

Urge voltarmos a olhar para nós (pessoas; seres humanos individuais mas interdependentes) e não deixarmos que a reificação de ideias (porque a Economia e os Mercados não são mais do que isso, ideias reificadas pelo todo social) nos tome a vida de assalto.

E mais direi sobre isto... Quando achar oportuno!


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